segunda-feira, setembro 08, 2014

Conversa sobre a Fé e a Ciência – Frei Betto e Marcelo Gleiser, com Waldemar Falcão - Orelha de Livro

 
Imagine o encontro entre um físico judeu agnóstico e um religioso dominicano para falar sobre a dicotomia existente entre fé e ciência. O que você vê? Talvez o que lhe venha à mente, inicialmente, seja o embate entre duas visões de mundo que jamais se abraçam, e estes dois acabariam num conflito insensato e agressivo. Correto?


Errado. Em “Conversa sobre a Fé e a Ciência”, Waldemar Falcão (músico, escritor, astrólogo) media a conversa entre Frei Betto (aquele mesmo, que lutou contra a ditadura militar, e que escreveu o livro “Batismo de Sangue”, entre outros), Marcelo Gleiser (autor de “A Dança do Universo” e apresentador do programa “Poeira das Estrelas”, que passava no Fantástico). E tudo o que tinha para dar errado aqui flui num bate papo daqueles em que você diz:

- Puxa, como eu queria estar lá pra conversar com eles...


O livro é dividido em quatro blocos: “Trajetórias”, onde Betto e Gleiser apresentam suas biografias e experiências de vida de maneira honesta e intensa, compartilhando lembranças, angústias, tristezas e alegrias em seus caminhos; “Ciência e Fé”, onde discutem a relação entre estes dois saberes/visões de mundo, também de maneira aberta e sensata; “O Poder”, onde eles debatem sobre a natureza, a aplicabilidade e a história das instituições/forças que rege o mundo humano; e “Até o fim do mundo”, onde se debatem ideias sobre o fim do mundo, do universo e de tudo o mais.

Agora, o que há de tão diferente neste livro que me cativou e fez com que eu só o abandonasse depois de termina-lo, deixando-me apaixonado pelos debatedores?

Seguinte: o Gleiser eu já conhecia – pelo fato de ser estudante de astronomia, e por ter lido, há algum tempo atrás, “A Dança do Universo”. Sempre achei sua postura sóbria e serena, e seu conhecimento sólido. Percebo nele a mesma força que movia Carl Sagan, a vontade de disseminar o conhecimento para o mundo. E também o fato de que ele é apaixonado por música, assim como eu.

Frei Betto eu sabia pouco, confesso, e foi com ressalvas que entrei neste livro quando vi seu nome. Aos poucos, fui “caindo em sua conversa” ao encontrar um filósofo, um cientista e um homem de fé sincera, que consegue ver os ardis e as manchas na história da Igreja, mas que, apesar de tudo o que viveu, consegue enxergar o mundo com tonalidades e texturas belíssimas. Um homem cheio de facetas contraditórias, mas que aceita as contradições sem hipocrisia.

O mediador da conversa – que participa atentamente da mesma, dando opiniões interessantes e pontos de vista divergentes -, Waldemar Falcão, é músico, escritor, astrólogo... leu de tudo, tem um vasto conhecimento em religiões ocidentais... um cara também contraditório, mas alguém que sabe estimular a conversa a fluir de maneira natural.

A experiência do livro é indescritível. Gleiser, apesar de se colocar como agnóstico, possui uma espiritualidade poderosa; Frei Betto, apesar de ser religioso, não se esconde das evidências científicas, e questiona os abusos e absurdos que a religião – e não a religiosidade – fazem com as pessoas; e Waldemar, um cara cheio de dúvidas, pergunta com humildade sobre coisas que não sabe e fala com serenidade nas que acredita.

Em momento algum há agressividade, violência ou desrespeito. São pessoas tranquilas, porém curiosas, que se encontram num bate papo num hotel no Rio de Janeiro. E o que ocorre não é o encontro entre os intelectuais, mas uma comunhão de pessoas que buscam saber, e que delimitam seus campos de atuação com tolerância e respeito, deixando claro que religião e ciência não se anulam e nem precisam ser inimigas – apenas devem saber o seu lugar e não interferir negativamente uma com a outra.

Se você é uma pessoa religiosa/espiritualista que deseja saber e ver, que tem curiosidade de entender o mundo e o universo sem a necessidade de ser conduzido por alguém que te quer deixar na ignorância, este livro é para você.

Se você é um homem das ciências, mas que acredita que é preciso manter a mente aberta para o que não tem explicação e aceitar a visão dos outros com respeito e dignidade, ainda que hajam discordâncias, este livro é para você.

Se você quer conversar com pessoas inteligentes e conseguir um pouco de sabedoria, participe desta conversa. Leia este livro e seja um pouco mais feliz, sabendo que não podemos saber de tudo – e, abraçando a fé ou adotando a dúvida, cada um possa seguir seu caminho rumo ao desconhecido fim.

Seja ele qual for.

Altamente recomendado.


Abraços e boa conversa.


4 comentários:

  1. Dois homens acima de tudo humanos que sabem conviver e debater as diferenças sem sectarismos. Não se podia esperar um encontro melhor e mais enriquecedor do que esse. Nem preciso dizer que estou na fila para ler.

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  2. Amenophis, eu que agradeço! Assis, concordo com você em gênero, número e grau.

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  3. Cientistas do mundo todo, agora reunidos em nome da Ciência e da Tecnologia, em seu estágio final, em que todas as descobertas possíveis e todo conhecimento humano, finalmente havia chegado ao máximo, nada mais tendo que ser descoberto, pois todos os problemas do homem já estavam plenamente resolvidos, a menos de uma pequena e insignificante e inquestionável questão, diante de tantas e evidentes provas:
    DEUS EXISTE?
    Segundo a História, o homem evoluiu na própria natureza que o circunda, manipulando a pedra, dominando o fogo e fundiu os metais.
    Descobriu a roda e a mobilidade; os barcos e conquistou um novo mundo!
    O avião, poderosa arma de guerra que, lançando bombas, impunha a destruição e o domínio, possibilitando assim a VITÓRIA e a “salvação” CONQUISTADA dos honrados (?) heróis.
    Hiroshima e Nagazaki!
    Que, reconstruídas, transformaram Detroit em cidade fantasma!
    A força do trabalho, da pesquisa e determinação do povo!
    Em dominar a Ciência e a Tecnologia para dominar o (falso) mundo dos negócios, das negociatas e da (guerra da) corrupção, bem mais eficaz que a destruição!

    Enfim e felizmente, numa nova era, a Justiça em seu espaço, como a Moral e a Dignidade Humana, dando ao homem seu verdadeiro “status” e respeito que sempre mereceu e, o que é mais notável, tudo conquistado através do próprio trabalho e do próprio valor. A conquista do Paraíso! Do homem, pelo homem para o homem!

    Lembrando que o conhecimento, derivado da antiga Filosofia, buscando a Verdade e a Sabedoria, foi dividido (didaticamente falando) e separado em ciências específicas, em nome da evolução e do crescimento.
    Sem perder o vínculo original, destacaram-se as Humanas, a Medicina e a Engenharia, desmembrando-se também elas, mais e mais, na medida em que surgiam novas descobertas, ciências e surpreendentes tecnologias até que, a partir de um ponto máximo, comparado ao lançamento de uma pedra, inverte o sentido da trajetória e volta ao ponto de origem do seu movimento.
    Falsa ideia de regressão do conhecimento, pois agora a Ciência, em oposto sentido, caminha para a reintegração, “fundindo” Engenharia com Medicina e Sociais com Tecnologia, todo o conhecimento em si mesmo.
    Um retorno inegável, pois a separação inicial foi apenas didática, no ciclo de análise e síntese que uma hora termina!
    Imperiosa, impulsiva e explosiva EVOLUÇÃO!

    Diante dos intelectuais Cientistas a derradeira obra! Soma de todo o conhecimento humano!
    A ciência de todas as ciências!
    Um humanoide (quase humano), com cérebro e todos os órgãos feitos em laboratório, funcionando perfeitamente!
    Neurônios feitos pelo homem, conferindo sentimentos e senso crítico consciente e subconsciente! Uma obra do estado da arte da Psiquiatria, com o estado da arte da Psicologia, com o estado da arte da Medicina e o estado da arte da Engenharia associada a todas as artes e tecnologias existentes (e inerentes).

    Uma OBRA DE ARTE que só faltava FALAR!

    PARLA!
    Qual é “tuo” nome?
    E a “máquina” falou:

    ADÃO!

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