Imagine o encontro entre um físico judeu agnóstico e um religioso
dominicano para falar sobre a dicotomia existente entre fé e ciência. O que
você vê? Talvez o que lhe venha à mente, inicialmente, seja o embate entre duas
visões de mundo que jamais se abraçam, e estes dois acabariam num conflito
insensato e agressivo. Correto?
Errado. Em “Conversa sobre a Fé e a Ciência”, Waldemar
Falcão (músico, escritor, astrólogo) media a conversa entre Frei Betto (aquele
mesmo, que lutou contra a ditadura militar, e que escreveu o livro “Batismo de
Sangue”, entre outros), Marcelo Gleiser (autor de “A Dança do Universo” e
apresentador do programa “Poeira das Estrelas”, que passava no Fantástico). E
tudo o que tinha para dar errado aqui flui num bate papo daqueles em que você
diz:
- Puxa, como eu queria estar lá pra conversar com eles...
O livro é dividido em quatro blocos: “Trajetórias”, onde
Betto e Gleiser apresentam suas biografias e experiências de vida de maneira
honesta e intensa, compartilhando lembranças, angústias, tristezas e alegrias
em seus caminhos; “Ciência e Fé”, onde discutem a relação entre estes dois
saberes/visões de mundo, também de maneira aberta e sensata; “O Poder”, onde
eles debatem sobre a natureza, a aplicabilidade e a história das
instituições/forças que rege o mundo humano; e “Até o fim do mundo”, onde se
debatem ideias sobre o fim do mundo, do universo e de tudo o mais.
Agora, o que há de tão diferente neste livro que me cativou
e fez com que eu só o abandonasse depois de termina-lo, deixando-me apaixonado
pelos debatedores?
Seguinte: o Gleiser eu já conhecia – pelo fato de ser
estudante de astronomia, e por ter lido, há algum tempo atrás, “A Dança do
Universo”. Sempre achei sua postura sóbria e serena, e seu conhecimento sólido.
Percebo nele a mesma força que movia Carl Sagan, a vontade de disseminar o
conhecimento para o mundo. E também o fato de que ele é apaixonado por música,
assim como eu.
Frei Betto eu sabia pouco, confesso, e foi com ressalvas que
entrei neste livro quando vi seu nome. Aos poucos, fui “caindo em sua conversa”
ao encontrar um filósofo, um cientista e um homem de fé sincera, que consegue
ver os ardis e as manchas na história da Igreja, mas que, apesar de tudo o que
viveu, consegue enxergar o mundo com tonalidades e texturas belíssimas. Um
homem cheio de facetas contraditórias, mas que aceita as contradições sem
hipocrisia.
O mediador da conversa – que participa atentamente da mesma,
dando opiniões interessantes e pontos de vista divergentes -, Waldemar Falcão,
é músico, escritor, astrólogo... leu de tudo, tem um vasto conhecimento em
religiões ocidentais... um cara também contraditório, mas alguém que sabe
estimular a conversa a fluir de maneira natural.
A experiência do livro é indescritível. Gleiser, apesar de
se colocar como agnóstico, possui uma espiritualidade poderosa; Frei Betto,
apesar de ser religioso, não se esconde das evidências científicas, e questiona
os abusos e absurdos que a religião – e não a religiosidade – fazem com as
pessoas; e Waldemar, um cara cheio de dúvidas, pergunta com humildade sobre
coisas que não sabe e fala com serenidade nas que acredita.
Em momento algum há agressividade, violência ou desrespeito.
São pessoas tranquilas, porém curiosas, que se encontram num bate papo num
hotel no Rio de Janeiro. E o que ocorre não é o encontro entre os intelectuais,
mas uma comunhão de pessoas que buscam saber, e que delimitam seus campos de
atuação com tolerância e respeito, deixando claro que religião e ciência não se
anulam e nem precisam ser inimigas – apenas devem saber o seu lugar e não
interferir negativamente uma com a outra.
Se você é uma pessoa religiosa/espiritualista que deseja
saber e ver, que tem curiosidade de entender o mundo e o universo sem a
necessidade de ser conduzido por alguém que te quer deixar na ignorância, este
livro é para você.
Se você é um homem das ciências, mas que acredita que é
preciso manter a mente aberta para o que não tem explicação e aceitar a visão
dos outros com respeito e dignidade, ainda que hajam discordâncias, este livro
é para você.
Se você quer conversar com pessoas inteligentes e conseguir
um pouco de sabedoria, participe desta conversa. Leia este livro e seja um
pouco mais feliz, sabendo que não podemos saber de tudo – e, abraçando a fé ou
adotando a dúvida, cada um possa seguir seu caminho rumo ao desconhecido fim.
Seja ele qual for.
Altamente recomendado.
Abraços e boa conversa.
Obrigado pela dica!
ResponderExcluirDois homens acima de tudo humanos que sabem conviver e debater as diferenças sem sectarismos. Não se podia esperar um encontro melhor e mais enriquecedor do que esse. Nem preciso dizer que estou na fila para ler.
ResponderExcluirAmenophis, eu que agradeço! Assis, concordo com você em gênero, número e grau.
ResponderExcluirCientistas do mundo todo, agora reunidos em nome da Ciência e da Tecnologia, em seu estágio final, em que todas as descobertas possíveis e todo conhecimento humano, finalmente havia chegado ao máximo, nada mais tendo que ser descoberto, pois todos os problemas do homem já estavam plenamente resolvidos, a menos de uma pequena e insignificante e inquestionável questão, diante de tantas e evidentes provas:
ResponderExcluirDEUS EXISTE?
Segundo a História, o homem evoluiu na própria natureza que o circunda, manipulando a pedra, dominando o fogo e fundiu os metais.
Descobriu a roda e a mobilidade; os barcos e conquistou um novo mundo!
O avião, poderosa arma de guerra que, lançando bombas, impunha a destruição e o domínio, possibilitando assim a VITÓRIA e a “salvação” CONQUISTADA dos honrados (?) heróis.
Hiroshima e Nagazaki!
Que, reconstruídas, transformaram Detroit em cidade fantasma!
A força do trabalho, da pesquisa e determinação do povo!
Em dominar a Ciência e a Tecnologia para dominar o (falso) mundo dos negócios, das negociatas e da (guerra da) corrupção, bem mais eficaz que a destruição!
Enfim e felizmente, numa nova era, a Justiça em seu espaço, como a Moral e a Dignidade Humana, dando ao homem seu verdadeiro “status” e respeito que sempre mereceu e, o que é mais notável, tudo conquistado através do próprio trabalho e do próprio valor. A conquista do Paraíso! Do homem, pelo homem para o homem!
Lembrando que o conhecimento, derivado da antiga Filosofia, buscando a Verdade e a Sabedoria, foi dividido (didaticamente falando) e separado em ciências específicas, em nome da evolução e do crescimento.
Sem perder o vínculo original, destacaram-se as Humanas, a Medicina e a Engenharia, desmembrando-se também elas, mais e mais, na medida em que surgiam novas descobertas, ciências e surpreendentes tecnologias até que, a partir de um ponto máximo, comparado ao lançamento de uma pedra, inverte o sentido da trajetória e volta ao ponto de origem do seu movimento.
Falsa ideia de regressão do conhecimento, pois agora a Ciência, em oposto sentido, caminha para a reintegração, “fundindo” Engenharia com Medicina e Sociais com Tecnologia, todo o conhecimento em si mesmo.
Um retorno inegável, pois a separação inicial foi apenas didática, no ciclo de análise e síntese que uma hora termina!
Imperiosa, impulsiva e explosiva EVOLUÇÃO!
Diante dos intelectuais Cientistas a derradeira obra! Soma de todo o conhecimento humano!
A ciência de todas as ciências!
Um humanoide (quase humano), com cérebro e todos os órgãos feitos em laboratório, funcionando perfeitamente!
Neurônios feitos pelo homem, conferindo sentimentos e senso crítico consciente e subconsciente! Uma obra do estado da arte da Psiquiatria, com o estado da arte da Psicologia, com o estado da arte da Medicina e o estado da arte da Engenharia associada a todas as artes e tecnologias existentes (e inerentes).
Uma OBRA DE ARTE que só faltava FALAR!
PARLA!
Qual é “tuo” nome?
E a “máquina” falou:
ADÃO!