sexta-feira, outubro 11, 2013

The Shining/O Iluminado - O Livro


Dia 284 - SEXTA DAS LETRAS

Sabe aquele momento que você julga que por ter visto um filme baseado em uma obra literária não ser necessário ler o livro que o inspirou? Aconteceu comigo. O livro sempre esteve comigo em algum lugar da minha biblioteca.. Eu o emprestava, e diferente de outros, ele voltava. Quando não voltava eu sentia sua falta e o comprava com a intensão de um dia começar a sua leitura, não começava e ele logo era esquecido em algum canto. Eu sabia que ele estava lá a me esperar, Estou falando de The Shining/O Iluminado, de Stephen King.




Não há escritor que eu aprecie mais o estilo de escrita do que Sthepen King, nem alguém que tenha a habilidade de me fazer sentir mais medo do que o próprio, eu e milhares de leitores fãs de sua escrita espalhados pelo mundo. Das coisas que King escreve nem todas segundo ele próprio, tem a intensão de criar medo e pavor. Posso entender isso. Algumas coisas que escrevemos, algumas vezes parecem adquirir vida própria e seguir um rumo que você não planejou.

Mas o que faz de King um escritor com a habilidade de antecipar as coisas que nos metem medo "ensaca-las" em uma história e dizer: Tome, leia isso. Divirta-se, e tente não sentir medo? Sobre uma dessas coisas eu já falei aqui no blog quando resenhei o piloto da séries Under The Dome (A Redoma) http://www.01pordia.com/2013/07/under-dome-episodio-piloto.html , que é a técnica do isolamento. Por vezes ele isola pessoas em alguma cidade ou lugar e com isso faz aflorar o que existe de pior nelas, a partir do que elas mais temem. A outra é compreender os medos coletivos de cada época, como nos anos 50, no pós-guerra momento em que os filmes de monstro começaram a aparecer nas telas de cinema e antes disso, a época dos filmes de ficção a partir de Roswell que exploravam uma possível invasão alienígena. O medo das ameaças que vinham de fora, atualmente se tornam os medos de ameaças que vem de dentro, como doenças tipo câncer e as contaminações viróticas como o HIV. Em todos estes contextos de épocas, quando King ambienta seus romances, ele sabe se apropriar e explorar esses medos com maestria.

Mas sem fugir ao nosso objetivo, voltemos ao Iluminado, romance. Iniciei esta escrita no mesmo momento em que iniciei a leitura do livro, o objetivo é escrevê-lo em paralelo enquanto o leio. Agora já altura da metade da obra, posso dizer com segurança que entendo as razões pelas quais King desconsiderou a obra de Stanley Kubrick, O Iluminado, baseado no seu livro. 

O maior desconforto do filme para min, vem do fato de que Danny, o garoto com poderes psíquicos que se expressam pela presença de um amigo imaginário para os pais e que lhe mostra coisas nem sempre agradáveis  na verdade tenha recebido uma atenção, ou um peso menor na trama do filme, quando no livro ele é o maior e, principal exatamente por seus poderes. Lembro que eu olhava para aquele cartaz do filme que destacava o personagem de Jack Nicholson (Jack Torrance), quando lançado nas salas de cinema, e ele me fazia crer que o tal "iluminado" fosse ele. Algumas das importantes passagens do livro não estão no filme e elas são cruciais para estabelecer a importância de Danny, como a conversa entre ele o cozinheiro do Hotel em que a família ficará confinada por todo inverno. É neste ponto em que se estabelece o poder de Danny e o vinculo que o une ao cozinheiro e que o fará voltar ao hotel quando percebe que Danny está em perigo, mesmo sabendo que está colocando a sua própria também em perigo. A outra  a visita ao medico, que depois de examina-lo e conversar com ele, explica para Jack e Wendy o que ocorre com Danny de um ponto de vista estritamente clinico.´É a primeira vez que ambos tem alguém a explicar exatamente o que acontece com Danny, mesmo que não seja isso que ocorra com o menino. E aqui temos outra coisa de King diz gostar muito. O modo como as crianças vêem as coisas. E seus personagens crianças são mesmo fascinante, ele compreende que no mundo da criança, ou o mundo que elas observam, tudo é diferente; bem diferente do mundo dos adultos. E Danny é alguém com um canal aberto para coisas sem explicação. Imagine o que seria a vida para uma criança de sete anos que sem querer, entra na cabeças das pessoas e "vê seus pensamento". Penso que isso não seja algo agradável para um adulto e não deve ser diferente para uma criança.

No livro, Jack não é o foco. Com um passado perturbador, quase todo ele graças a compulsão pelo álcool ele luta agora contra o vicio, e para deixar seu passado sombrio para traz, mas escolheu um lugar com uma carga de energia psíquica muito forte para fazer isso. O Hotel Overlook tem um passado de coisas bem ruins e sombras em suas entranhas sempre prontas para atacar e perturbar o mais fracos, e Jack é fraco, Danny não. Kubrick fez um esforço para associar o passado do Overlook a massacres de indígenas em seu filme e negligenciou coisas mais concretas e certas de acontecer a um lugar isolado no meio das montanhas e que já serviu de abrigo a famosos (com seus segredos de alcova) e gente ligada ao submundo do crime. O Hotel passou, desde a sua construção de mão em mão e seus mais antigos proprietários sempre tiveram problemas com o hotel e há históricos de crimes e suicídios em suas dependências.

Uma boa história de terror lhe assustará mais ainda e terá mais efeito sobre quem lê se ela estiver associada a alguns de seus medos. O que? Você não tem medos? Acha que isso é coisas de "mulherzinha"? Não meu amigo, você tem, eu tenho certeza do que estou dizendo! Ocorre que alguns de nossos medos são tão absurdos que tememos confessa-los a alguém. Eu tenho pelo menos cinco. Entre eles, o medo de corredores silenciosos  e deserto. Algo fácil de encontrar em um hotel. Eu tive um trabalho no passado que exigia que eu ficasse muito tempo em transito e a hospedagem em hotéis era algo bem comum em minha vida. nesse tempo me hospedei em todo tipo de hotéis, desde pequenas pousadas até hotéis 5 estrelas, e todos são iguais em uma coisas: seus corredores sem luz natural. Quando eram longos, nos grandes hotéis, eles eram ainda mais opressivos para min. Lembro sembre de pedir ao chegar na recepção, quartos em andares mais baixos, ou perto de elevadores e escadas para não ter que percorrer muito os corredores, algo que me enchia de medo e com uma sensação de passos a me seguir.

E eis que finalmente consegui finalizar o livro, mas não foi algo fácil. Foram tanto os contratempos e tantas leituras paralelas que nem sei como concluir esta postagem. Olhando esta escrita iniciada antes, percebo que não há muito mais a dizer como forma de conclui-la, exceto reafirmar que entendo o desconforto do mestre King com ele. Kubrick é alguém que respeito, mas aqui eu tenho que dizer que apropria-se da obra de alguém como ele fez. e depois jogar algumas coisas desagradáveis na cara do autor original é muito desrespeitoso. Minha conclusão só pode ser uma em respeito a King: o livro é imensamente melhor.



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