Flipped - 2010
Dir: Rob Reiner
Elenco: Madeline Carroll, Callan McAuliffe, Rebecca De Mornay
Rob Reiner tem uma capacidade única de contar boas
histórias e um modo muito cativante de fazer isso. Existem filmes em sua obra
que não valem o esforço, mas os outros, os em que ele se empenhou de verdade
pra contar uma história, são daqueles trabalhos que, quando acabam, você tem um
sorriso na cara e a sensação de que aprendeu alguma coisa.
A lista é considerável: Conta Comigo, A Princesa
Prometida, Harry e Sally, Antes de Partir... São apenas alguns deles, só pra dar uma ideia do
peso da boa obra do sujeito. Não fosse suficiente a capacidade de contar boas histórias,
o sujeito é um dos poucos diretores capazes de adaptar a contento uma obra do
Stephen King. No caso de Reiner, as menos sobrenaturais, as mais humanas.
Não é hoje que falaremos de uma delas.
Mas falaremos de uma em particular que me surpreendeu
demais!
Todo mundo já deve ter tido uma dessas: aquele filme que
não te agrada em nada, o bom e velho “não vi e não gostei”, mas que por alguma
razão você acaba vendo e se surpreendendo absurdamente. O nome desse filme é
Flipped (e eu me recuso a usar o seu título nacional).
Flipped se passa nos EUA dos anos 60 e conta a história
de Bryce e Juli. Bryce, um garoto até então de 7 anos que se muda para a nova
vizinhança e Juli, da mesma idade, que se apaixona perdidamente por ele só de
bater os olhos e não se dá ao esforço de fingir o contrário ou no mínimo
disfarçar. Os dois crescem e a história volta a eles anos depois, por volta dos
14/15 e a coisa é a mesma, a paixão platônica absurda da garota enquanto ele
acha que ela é maluca e se sente sufocado. O “flip” do título se dá no momento
em que Juli percebe que Bryce talvez não seja assim tão perfeito quanto ela
imagina e Bryce percebe que talvez não consiga viver sem ela.
Isso ocorre por conta de uma série de mal entendidos
causados pela família do garoto, alguns acontecimentos bastante estúpidos por
parte do próprio e um monte de desencontros totalmente aleatórios que coincidem
de ocorrer num momento chave da vida dos dois. Idiotices por parte do garoto,
em resumo.
O bacana do filme é que ele conta o ponto de vista dos
dois, então representa os dois lados da moeda, mas não de forma imparcial. O
que torna a história fluida e te deixa torcendo mais ainda pra que a coisa
termine de uma maneira pelo menos harmoniosa, o que em certos momentos parece
impossível.
Isso por que Bryce está realmente empenhado em se livrar
da garota e não a poupa para fazer isso, parece realmente disposto a feri-la se
necessário. Não dá pra culpa-lo em cem por cento, ela é meio maluca, meio fora
dos padrões habituais, a família dela inteira é assim (destaque para o avô
gente boa interpretado pelo ótimo John Mahoney) enquanto a dele é mais conservadora.
Ao mesmo tempo em que ela parece fazer seus últimos esforços para conquista-lo,
até o momento em que se cansa e decide desistir dele e partir pra outra.
E isso é extremamente doloroso para os dois por que,
nesse momento ele se dá conta do quanto aprendeu a gostar e admirar Juli e do
quanto ele foi estupido e tentar se livrar da garota.
E isso parece muito filme de mulherzinha falando assim,
parece uma sucessão de clichês desgastados, e talvez até seja, mas como eu
disse: Rob Reiner sabe contar uma boa história e é impressionante o que ele faz
aqui, como ele trata o amadurecimento dos dois protagonistas da história, cada
um por suas razões. Um amadurecimento mútuo e uma troca de papeis muito bem
tratados.
Não é só algo bonitinho e fofinho, o negócio tem conteúdo, tem boas e verdadeiras reflexões embutidas.
Flipped é pequeno e despretensioso, mas cheio de boas
ideias e tratado com um cuidado e um preciosismo imenso por seu realizador. Tudo
aqui foi bem cuidado e bem escolhido, principalmente o elenco. O par de
protagonistas (Madeline Carroll e Callan McAuliffe) é excelente e funciona muito bem, principalmente quando estão
juntos e é notável a evolução dos dois como personagens.
Só reclamaria, se fosse reclamar de algo, de uma ou outra
sub trama que se alonga demais (o tio deficiente de Juli, apesar da intenção,
soa exagerado e em, certos momentos, arrastado, quebra um pouco o ritmo). De
resto, é um filme absolutamente surpreendente e...
Sorriso na cara e lição aprendida, que venha mais Rob
Reiner!
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Pra variar, vou conferir esse filme.
ResponderExcluirFico pensando por que as produtoras não escolhem pessoas como você para fazerem resenhas dos filmes, ao invés daqueles resuminhos pasteurizados na contracapa...
Nossa, cara, valeu mesmo.
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