O Nevoeiro

Dia 86 - Felipe Pereira

The Mist - 2007

Dir: Frank Darabont

Elenco: Thomas Jane e o elenco de The Walking Dead

Tava aqui sem saber o que ver, sem ter muito do que falar, meio cansado, desgastado, desanimado, que vamos ver hoje? Um filme alegre e feliz? Não, vamos ver uma das mais competentes e desgraçadas adaptações de um livro do Stephen King para o cinema: O Nevoeiro.

Apesar de que eu acho que muita gente conhece e já viu esse, é sempre bom relembrar as raras ocasiões em que uma obra do King é bem adaptada. O fato é que o sujeito é um mestre na arte zen do desapego e deixa qualquer um, qualquer um mesmo, pegar seus livros e fazer coisas escabrosas com eles no cinema e na TV. Tipo as intermináveis e totalmente desnecessárias sequências de Children of The Corn ou aquela maluquice que fizeram com The Lawnmower Man, com todos os telefones do mundo tocando sem nenhuma explicação...

Enfim, O Nevoeiro conta a história de David Drayton (Thomas Jane, fazendo o que pode), um desenhista de posters de cinema (bem a cara dos protagonistas extremamente específicos do King) que fica preso com o filho e um grupo de pessoas num supermercado após uma tempestade que destrói a cidade inteira. Logo após a tempestade uma névoa branca inexplicável invade a cidade e coisas inexplicáveis acontecem. Não tarda até que criaturas comecem a surgir vindas da névoa e se inicia uma verdadeira luta pela sobrevivência, contra as criaturas do lado de fora e as pessoas do lado de dentro que, tomadas pelo desespero, tomam decisões cada vez mais absurdas ao ser lideradas por uma fanática religiosa (Marcia Gay Harden, detestável).

Chega num momento, passado dias, em que aquele ambiente se torna tão agressivo quanto o lado de fora e, logo em seguida, o lado de fora se torna mais atrativo que ficar ali, protegido apenas por paredes de vidro e trancados com uma maluca que quer matar todos antes do fim do mundo.

Estrelado por Thomas Jane e pelo elenco inteiro de The Walking Dead, o Nevoeiro foi lançado nos EUA em novembro de 2007 e só chegou por aqui em agosto de 2008. Talvez por isso já tenha chegado com um visual meio datado, uns efeitos meio toscões, mas a história e a execução como um todo superam essa deficiência. Pra falar a verdade, o filme é tão bom que tem o Thomas Jane como protagonista e nem isso estraga. Mesmo assim, acho que foi perdida uma chance de apelar pro lado lovecraftiano da coisa no visual dos bichos, maior bola fora da produção.

Sem revelar muito, o filme toma uns rumos bem inesperados (no mínimo inesperados), chega a um nível de tensão absurdo e a um final devastador, daqueles de te fazer assistir um episódio da Dora Aventureira pra resgatar a bondade e a esperança (e por que é sempre bom conversar com a Dora quando a gente tá desanimado). Além da carga de terror O Nevoeiro não poupa em crítica e, nesse quesito, sobra pra gregos e troianos. Crítica à sociedade, à ciência, à religião, é uma verdadeira pancadaria.

Vale lembrar que o diretor Frank Darabont adora colocar as mãos nas obras do King e já adaptou várias de suas histórias (na verdade, salvo exceções, os bons filmes do King são os adaptados pelo Darabont) e dirigiu o piloto e produziu a primeira temporada de The Walking Dead, então o cara sabe o que faz. E escreveu A Bolha Assassina, isso diz muito do caráter de um homem.

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