“Este artigo, iniciando minha sessão semanal sobre quadrinhos no
01Pd, é o início de um projeto de debate dos X-Men pelas gerações, apreciem.”
(Lucas Santhyago Brandão)
Nada como uma visão nada bonita da origem da sua equipe
preferida de super-heróis.
Anos 60, o ápice da Era Marvel nos quadrinhos, heróis
humanizados, equipes e mais equipes, conflitos psicológicos e sociais derivados
dos poderes... E nos surgem o amálgama de tudo isso, os X-Men. "Os mais
estranhos super-heróis de todos os tempos!" "No sensacional estilo do
Quarteto Fantástico!"
A primeira história dos X-Men é um reflexo total de sua época,
dentro da Marvel e dentro do ideário da Guerra Fria. O Fera que ali aparece é o
que o Hulk e o Coisa seriam se lidassem melhor com sua condição. O Homem de
Gelo é tão jovem e piadista quanto o Tocha Humana, a Garota Marvel é tão cheia
de atitude quanto a Vespa ou a Mulher Invisível. Quanto a Guerra Fria, temos
mísseis! E a aparição do termo "mutante" tanto no discurso de Xavier
quanto no discurso de Magneto.
Testes nucleares comuns a corrida armamentista característica do
período davam essa tensão acerca de mutação. E a Marvel já tinha trabalhado
demais em torno de radiação. Então veio a ideia: Evolução, e o debate do
universo super-heroico mudou muito a partir daí. Antes, acidentes e/ou
experimentos criavam 'aberrações' e/ou inovações que iam tanto para o bem
quanto para o mal, ou seja, os super-heróis e super-vilões eram puro reflexo da
corrida armamentista em sua relação com os poderes. Mas no caso dos X-Men, não
houve acidente ou experimento, era apenas o trabalho da natureza. E então
Magneto vem a defender o direito natural de sua espécie reger o mundo, enquanto
Xavier faz de tudo para impedi-lo ensinando seus jovens alunos a defender a
humanidade sem nenhuma justificativa metafísica, mas por resposta ao impulso
moral/ético de preservar a vida. Essa é a grande tensão de "The
X-Men" #1, de 1963, por Stan Lee e Jack Kirby, similar a outras tensões do
período. (Continue lendo...)
Como por exemplo, a tensão socialismo/capitalismo, o primeiro com seu discurso titulando a história humana como a história da luta de classes metafisicamente, o segundo tentando preservar um modo de vida já inserido no dia-a-dia das classes mais abastadas. Nos X-Men, o discurso metafísico aparenta ser o discurso do louco, o rosto de Magneto na primeira edição só possui expressões exacerbadas, esbaforidas. Nada mal para um quadrinho feito nos Estados Unidos, seja esta minha análise extrapolada ou não. Hoje, na era do politicamente correto globalizado, apontam para a dicotomia Xavier/Magneto como algo similar a dicotomia Martin Luther King/Malcolm X no movimento anti-racismo. Comparam constantemente o problema mutantes x humanos com conflitos étnicos, mas não percebem a diferença fundamental: Nos conflitos étnicos, geralmente os dois lados se usam de discursos metafísicos, os brancos tentando justificar seu modo de vida e os negros justificando igualdade, isso já desde a luta contra a escravidão africana. Também esquecem que a diversidade humana só virou tema aos X-Men nos anos 70, enquanto que de início todos os personagens eram brancos estadunidenses em boa forma. Até a etnicidade do grande 'vilão' Magneto veio posteriormente.
No momento em que surge a Irmandade de Mutantes, grupo formado
pelo vilãozão, é perceptível que os mutantes "do mal" são muito mais
deformados fisicamente por seus poderes que os mutantes "do bem",
estes que conseguiriam passar imperceptíveis por qualquer multidão. Mutantes
como Blob, Groxo e Mestre Mental tinham em sua aparência um quê de repugnante
estético, que nos dois primeiros casos é logo relacionado a mutação, no
terceiro a uma repugnância que temos a personalidade moral do personagem mesmo.
A aparição de Namor nas edições sequentes transforma a Irmandade
numa espécie de União Soviética, buscando aliados políticos em locais de
cultura não tão ocidentalizada, no caso, Atlântida.
Não se questiona o uso das armas humanas por Xavier, que parece
tratar de tudo com a infâmia certa: O local onde treina seu grupo é uma
"escola", os jovens com capacidades muito além do normal são
"jovens superdotados", a Escola Xavier Para Jovens Superdotados é uma
jogada muito comercial. Quem lia X-Men nos anos 60, os pais ou as crianças? Com
certeza, a segunda opção.
O Comics Code Authority mantinha os pais seguros
quanto ao que os filhos andavam lendo. Então crianças que iam a escolas
convencionais e se chateavam com livros e cadernos eram de repente seduzidas
pela leitura de uma escola onde Hank McCoy pulava pra lá e pra cá, Robert Drake
brincava com gelo, Scott Summers emitia radiação de seus olhos e Warren
Worthington III voava, com asas e tudo! E ainda há a história em que vão parar
na Terra Selvagem, viajando para um lugar com dinossauros! Isso tudo é muito
subversivo, isso atrai. Ler uma escola de mutantes era como fugir de um mundo
de humanos pelas poucas páginas que a revista durava, bimestralmente. Stan Lee
foi muito criativo nessa jogada. Sempre me espanto com o quanto ele se daria
bem no ramo da publicidade.
A fase pós-Stan Lee deu mais identidade aos alunos de Xavier por
meio de certas mudanças nos uniformes individuais e da adição de alguns dramas
pessoais como o do irmão do líder Ciclope, Destrutor. Além da adição deste
último ao roll de 'mocinhos' junto de Lorna Dane, a Polaris. Mas infelizmente,
sem o grande escritor-publicitário, as vendas muito caíram e a revista foi
cancelada pra depois virar republicação pra só voltar direito mesmo bem depois,
nos anos 70, com o time diversidade, do qual falaremos na próxima parte do
projeto, semana que vem.
Por fim, devo mencionar o fato mais aproximador da primeira
década dos mutunas aos quadrinhos mais atuais. Tivemos uma saga de
"Vingadores Vs. X-Men" em 2012 abalando os fanboys na Marvel, tudo
porque uma equipe quis se intrometer nos assuntos da outra, claro, afinal as
equipes vivem no mesmo universo. Bem, em janeiro de 65, na edição 9 de sua
revista, Stan Lee já trazia um combate entre as duas equipes, também porque as
duas pesquisavam o mesmo assunto. Inovação?
Nota do Editor: Bem vindo ao Lucas, obrigado pela colaboração, camarada.
Quem curtiu o texto do cara pode ver mais no blog dele, o Contos Escrotos. E semana que vem tem mais Quadrinhos!
Gosto também da história do seriado heroes!! Enquanto X-Men temos a sensação de ficção bem presente e desse distacionamento do mundo real, heroes parece estar conversando de algo que há por vir. ;)
ResponderExcluirRealmente meu caro, apesar de que o excesso de pretensão de realidade em Heroes pouco me agrada.
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