terça-feira, julho 16, 2013

O próprio diabo se envergonharia de uma comparação entre WHITE ZOMBIE E NOITE DOS MORTOS VIVOS.

Cinema - Assis Oliveira

Filme: White Zombie/Zombie Branco (1932)- IMDb 5,1
Direção: Victor Halperin
Roteiro: Garnett Weston (história e diálogos)
Atores: Bela Lugosi, Madge Bellamy, Joseph Cawthorn e mais
Duração: 69 min


Este é o primeiro filme sobre Zumbis. Lançado nos Estados Unidos em 1932. O filme conta a história de Neil (John harron) e Madeleine (Madge Bellamy) um casal de jovens apaixonados que viajam até o Haiti para visitar um amigo que conheceram num trem e que oferecera sua mansão para a realização da cerimonia de casamento de ambos. O que eles não sabem é que este amigo está apaixonado por Madeleine e pede ajuda para conquistar a garota, a Legendre (Bela Lugosi), um feiticeiro que revive os mortos para ter mão de obra em sua usina de açúcar  Usando uma peça de roupa de Madeleine ele realiza um feitiço vudu, depois de matar, ele revive Madeleine para os braços de Beaumont (Robert Frazer), o amigo do trem. O problema é que ela volta como Zumbi, no caso uma zumbi branca, incapaz de chorar, sorrir ou mostrar qualquer sentimento. Neil se transforma num bêbado amargurado, e quando descobre que sua amada pode estar viva, se volta contra Beaumont e Legendre. (Wiki)


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Filme:Night of The Living Dead/A Noite dos Mortos Vivos (1968)- IMDb 8,0
Direção: George A. Romero
Roteiro: John A. Russo e George A. Romero
Elenco: Duane Jones, Judith O'Dea, Karl Hardman e mais
Duração: 96


George Romero dirigiu este filme como um terror independente de 1968 em preto e branco. Ben (Duane Jones) e Barbra (Judith O'Dea) são os protagonistas de uma história sobre a reanimação misteriosa de indivíduos recentemente mortos, e seus esforços, junto de outras cinco pessoas, para sobreviverem a uma noite enquanto se encontram presos em uma casa de fazenda na região rural.
George Romero produziu o filme com um orçamento de 114.000 dólares e após uma década de relançamentos cinematográficos, faturou cerca de 12 milhões só nos Estados Unidos. Já é considerado como um filme, historicamente, culturalmente ou esteticamente importante no Registro Nacional de Filmes da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos. (Wiki)

Zombies são as criaturas, mais conhecidas e adoradas nos filmes de horror/terror, podemos afirmar isso, mesmo pensando em Drácula, Frankenstain e em Lobisomens. Mas é incontestável que os zumbis são os reis desse gênero. Do mesmo modo podemos pensar em George A. Romero como pai dos filmes modernos sobre essas criaturas, mas as companhias de cinema já se debruçavam sobre o tema desde os anos 1920. White Zombies (1932)/Zumbi Branco e Nigth ol the Living Dead/A Noite dos Mortos Vivos (1968), são duas criações em linha diferente de tempo e que por isso refletem diferentes momentos do pensamento da sociedade americana sobre as questões raciais. Entre ambos não é difícil perceber uma mudança significativa no tratamento dado ao americanos negros em oposição aos americanos brancos, além da própria transformação do gênero.

Depois da primeira guerra mundial os filmes americanos passaram a ter um conteúdo mais socialmente engajados como tema. Os irmãos Victor e Edward Halperin, encontraram uma maneira de criar uma criatura totalmente inédita em meio as criações de monstros promovidas pelos estúdios da Universal Pictures. Refletindo o pensamento da época, o filme de ambos era um porto seguro, não sei ao certo se intencionalmente, para reforçar as ideias discriminatórias por meio de uma dinâmica racial dentro de um cenário de fantasia aparentemente inócuo. Em  White Zombie era fragrante o tema racial daquele momento. Pra começar o próprio conceito de zumbis parece ter vindo da obsessão nutrida por grande parte dos americanos com o Vodu do Haiti, eles eram fascinados com as praticas exóticas das religiões espalhadas pelo Caribe, especialmente Haiti e Cuba, bem possível  talvez pelos constantes contato entre as duas culturas. No caso do Haiti era a ideia de que a própria religião de uma maioria negra ofereciam uma oportunidade para os comandantes brancos justificassem seus ideais de escravização da população negra do Haiti e do resto das culturas.

BELA LUGOSI como Legendre
A "Zumbificação" nesse momento era uma declaração não apenas sobre classes sociais/culturais, mas também a discriminação racial diante da explosão da lutas dos movimentos por mais direitos civis no solo americano.
Com o enquadramento/ambientação do filme em um ambiente exótico e estrangeiro era possível fugir da ideia de que o racismo partia dos americanos brancos em direção ao Estados Unidos negro, sendo assim completamente justificado em um mundo selvagem haitiano de mortos-vivos. O medo da criatura zumbi não era de um ataque devorador de cérebros  mas o de transformação em algo sem vontade própria e de existência e proposito apenas justificados em servir o outro.
Alguns críticos de cinema nos chamam a atenção para a atmosfera discriminatória do filme, com atores brancos representando negros maquiados, personagens negros em que se enfatizam defeitos congênitos e feridas no corpo. A usina de Legendre (Bela Lugosi), cheia de zumbis negros que são dado apenas um olhar de passagem, e os zumbis brancos que formam a guarda especial de Legendre. As cenas para causar terror são sempre feitas por zumbis negros e nunca participam delas os zumbis branco.
A maior protagonista e vitima do processo de zumbificação é a mulher branca que da titulo ao filme. Madeilene é vitima duas vezes, da transformação e do ardil idealizado por Neil que a deseja sem vontade para que ela possa possui-la. Quase se insinua que os personagens negros são sem alma, e que seja um ocorrência muito mais devastadora para uma pessoa branca ser transformada em zumbi, isso é ainda mais evidente quando se ver apenas os negros como escravos na usina e em grandes grupos confinados, quase como gados. Já os zumbis brancos são vistos como de confiança, até o ponto de apenas eles fazerem a segurança de Legendre. Isso é algo como usar os monstros como bode expiatório para reforçar o racismo aparente

Na esteira dos movimentos de luta pelos direitos civis que produziram uma maior tolerância racista, surge George Romero inaugurando os modernos filmes de zumbis. Já não era aceitável que os cineastas escrevessem papeis para personagens negros em particular, no mesmo foco em que foram explorados até então. Retratá-los como inúteis  ou pior ainda como naturalmente mal, não era algo mais apropriado para o contexto da época. Então Romero criou um protagonista negro americano como a voz da razão, mais ainda, um que personificava o arquétipo do herói em A Noite dos Mortos Vivos. Ben, vivido por Duane Jones, era mais que um personagem masculino, negro e americano, ele era o protetor e líder digno de toda confiança e mesmo o cara para estar do lado da mulher branca. Diferente de White Zombie, em que toda a base é a subjugação dos negros e a intocável natureza da mulher branca, em A noite dos Mortos Vivos aceita-se que Ben fale o quiser, não porque era negro, mas porque ele era um homem, um parceiro. Romero ousou até mesmo a dar profundidade a seu personagem fazendo-o humano, com todas as nuances que isso carrega, até mesmo nas falhas. Ben perde a paciência e toma decisões nem sempre corretas. Ele não é perfeito, por qualquer meio, mas é uma pessoa real e não uma caricatura.


DUANE JONES como Ben
Os americanos negros estavam finalmente, começando a ser reconhecidos como mais que um cidadão de segunda classe. Romero ao utilizar um negro como protagonista em um filme estava ajudando de um certo modo, a impor as mudanças  de normas sociais e politicas da época.

Ao contrario de White Zombie, A noite dos Mortos vivos tem lugar num ambiente e território familiar para a maioria dos americanos, o ambiente rural funciona como o quintal das casas da maior parte de sua audiência. Remove-se assim o sentimento de segurança delas, que em White Zombie tinham o ambiente estrangeiro e portanto, bem longe de seus sagrados lares. O medo é trazido para mais perto de quem o assistiu. Agora ela eram forçadas a ver o mundo como real e longe de suas "áreas de conforto".

Apesar de Romero ser um homem branco seus pontos de vistas progressistas ajudaram a influenciar um processo de pensamento maior para as minorias negras no cinema. Em vez de explorar ou reforçar os medos raciais de uma America branca colocados na tela desde de 1930, ele os condena e até a faz se sentir-se envergonhada pelo que sente. E mais ainda, a narrativa mostra Ben como protagonista principal em oposição a um personagem branco que anseia por impor seus pontos de vistas, ainda que não fique claro algum sentimento de intolerância racial por parte dele; inteligentemente Romero consegue deixar a questão de fora nessa tensão, colocando o foco na sobrevivência do grupo, assim sua audiência é forçada a apoiar o negro.

Ben foi um personagem importante para os negros americanos em filmes que não retratavam o negro como uma paródia ou um estereotipo de raça. Os dois filmes utilizam claramente as propriedades narrativas, a fim de mostrar a relação subjacente entre os filmes de zumbis americanos e os pontos de vistas da sociedade americana para com os negros;Enquanto na década de 1930 o estrangeirismo e as paisagens exóticas eram ferramentas para justificar suas crenças racistas, os movimentos pelos direitos civis e os filmes da década de 1960 levaram o horror para os quintais dos americanos e os obrigaram a um olhar mais atento a maneira como tratavam seus semelhantes.


Nossa classificação abaixo vai para ambas as obras, pela importância do tema que as duas colocam em discussão se assim comparadas.





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