Michel 126, Dia 135.
Escutar "Random Access Memories" (2013), do Daft Punk, é um prazer sublime e inesperado. Encontramos aqui a dupla criando um som - de certa forma - inédito, menos eletro, mais harmônico e visceral. A sonoridade de RAM é retrô, meio setentista, com uma pegada de discoteca. É claro que o bom e velho Daft Punk de guerra está lá, mas há também guitarras old-style e bateria e baixo marcantes, algo mais orgânico e feminino que o habitual.
Um disco recheado de baladas, onde as vozes estão sobre a batida, onde há mais música que bips e boops, com participações que enriquecem o trabalho deles de uma maneira sensual e carnal: O guitarrista Nile Rodgers, o músico/produtor Paul Williams,o músico/produtor italiano Giorgio Moroder, o músico e multi-faz-tudo Pharrell Williams, Todd Edwards, DJ Falcon, Panda Bear e Julian Casablancas do Strokes.
As músicas funcionam. Criam um clima, sabe? Uma coisa de querer dançar, de querer abraçar a mulher e levar ela numa dança louca até o êxtase de um prazer meio cansado e cheio de flares. Dá vontade de sair por aí gritando que a vida vale a pena, apesar de cada tropeço e de cada rasteira que a vida (e as pessoas) nos dão.
RAM fala de amor de uma maneira que mistura passado e presente em uma coisa só, uma coisa triste e meio rancorosa, mas bonita e profunda. É impossível não se emocionar e não se identificar com "Within", uma faixa grandiosa e simples, mas rica e tão em-si mesma.
"Instant Crush", que tem participação de Julian Casablancas, também "surpreende" pela qualidade e pela ousadia de ser e não ser um som do Daft Punk. Aliás, o disco tem muito disso: mostrar que, mesmo quando não é, DP continua sendo DP. Quando toca o refrão você, invariavelmente, sente um certo cansaço otimista e concorda com seja lá o que for que a música te injete na corrente genética. Muito foda.
Pharrell Williams empresta sua voz e sua estética a duas das melhores músicas do disco: "Lose Yourself To Dance" e "Get Lucky". Em alguns momentos, "Lose Yourself To Dance" soa como algo que Michael Jackson poderia ter gravado em sua fase "Off The Wall" - isso sendo um elogio poderosamente monstruoso e atestando a qualidade do som. A guitarra de Nile Rodgers não pára, trazendo de volta aquele sentimento dos 70's de que poderíamos esquecer de qualquer coisa na pista sob um globo luminoso.
Porra, mêrmão! Isso é sentimento puro, música em estado plasmático direto na artéria mais central da medula óssea espiritual da galera!
Abro um espaço especial aqui para a música que me fascinou desde a primeira vez que escutei, ainda com Pharrell: "Get Lucky". Escute-a, pois a mesma dispensa apresentações longas - ela explica a si mesma.
Um som desses... isso não pode ser obra de seres humanos. É superior demais, dançante demais, motherfucker demais.
Então eu entro aqui de novo e trago o cover do Daughter para esta música incandescente, que muda completamente o clima da música, mas permanece no mesmo patamar de excelência:
Sério, fazia tempo que eu não escutava um álbum tão bem produzido, tão bem construído, com tanto esmero. Dá gosto ouvir música da mais alta qualidade, ainda mais quando vem pela obra dos caras de capacete brilhante.
Sensacional é a menor palavra para descrever "Random Access Memories". Uma viagem no tempo contraditoriamente atual, com referências diretas à música de discoteca amparadas pelos sintetizadores atômicos do Daft Punk. O elenco de apoio então?
Cara, faltam palavras para elogiar ainda mais esta obra de arte. Teve gente por aí dando quatro pontos de cinco; eu marco cinco de cinco e vou dormir, porque escutar RAM salvou meu dia, minha noite e provavelmente o resto da semana. Conselho? Escutem este disco até o ouvido pedir mais. Vale a pena.
Boas noites e até a próxima.
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