Dia 139 - Felipe Pereira 132
The Odd Life of Timothy Green - 2012
Dir: Peter Hedges
Elenco: Jennifer Garner, Joel Edgerton, CJ Adams
Vocês já viram Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada? Não? Sério?
Pois veja, é um ótimo filme. Um daqueles que surpreende e te deixa com vontade
de ver a filmografia do diretor inteira. O elenco é excelente: Steve Carell, Juliette
Binoche, Dane Cook, galera competente. O diretor se chama Peter Hedges e, na
época em que vi, esse era seu segundo filme.
Eu admito que não houve muita coisa que me atraísse a ver
seu trabalho mais recente A Estranha Vida de Timothy Green, além do próprio
Hedges e da trama curiosa, na verdade havia mais coisas que me afastassem que
as que me atraíssem. Uma delas: Disney. Reconheço o esforço da Disney em
entreter a família como um todo, reconheço a qualidade da maioria dos seus
trabalhos, mesmo quando erra a produtora costuma acertar, mas... Acho que isso
acontece com todo mundo: ao ver aquele castelo surgir brilhando, eu
automaticamente dou aquela torcida de nariz. É meio bizarro por que, na maior
parte das vezes, eu costumo gostar muito das produções da Disney.
O filme conta a história de um casal, Joel Edgerton e Jennifer
Garner, que não pode gerar filhos e decide adotar. Chegando à casa de adoção,
como forma de demonstrar que eles são responsáveis e capazes o suficiente para
dar suporte a uma criança, eles decidem contar uma história: a história de
Timothy Green. Uma história bem maluca, por sinal.
Eles contam à assistente social como tudo começou na
noite em que eles receberam o diagnóstico que dizia que, não importa o que
houvesse nesse mundo, eles não poderiam gerar um filho por conta própria. Deprimidos,
desolados e sem vontade de cantar uma bela canção, eles sentam no sofá e afogam
as mágoas no vinho até que, um tanto pra lá de Bagdá, o sujeito começa a notar
em papeizinhos as qualidades que gostaria que seu filho tivesse se um dia ele existisse:
bom humor, persistência, otimismo... Em certo ponto a esposa se empolga e se
une ao maluco na brincadeira. Até escolhem um nome pro filho imaginário:
Timothy. No fim eles pegam tudo o que anotaram, colocam dentro de uma caixa de
madeira e, sem razão nenhuma além do vinho, decidem enterrar a caixa no quintal
no meio da madrugada. Coisa de bêbado.
E vão dormir.
Eis que no meio da noite eles ouvem um barulho dentro de
casa, coisas quebrando, passos, maior climão de filme de terror e, quando
encontram a fonte dos barulhos, a surpresa: o filho que eles desejaram se
materializou magicamente, saiu de dentro do buraco que eles enterraram a caixa
no jardim. Moleque crescido já, uns dez anos de idade, cheio de peculiaridades.
Meio que, sem medir as consequências do desejo que fizeram, enfiaram um monte
de qualidades desconexas dentro da caixa e o resultado foi que o moleque saiu
de lá meio alegrão demais e meio esquizofrênico.
Aí vem a suspensão de descrença inicial por que o casal
não só decide cuidar do moleque vindo sabe-se lá do inferno como decidem apresenta-lo
à família de imediato, dia seguinte logo.
E a família é aquele negócio, bando de maluco
desajustado, o pai do cara é um daqueles ex-militares psicopatas que bebem
napalm como se fosse Ades (a composição é quase a mesma), a irmã da mãe é uma sem
noção desgraçada que fala o que dá na telha (quem não tem uma tia assim que
atire a primeira manga), e assim por diante.
O filme tem umas situações bacanas, umas sacadas muito
inteligentes, maaaas... E um mas bem grande, diga-se de passagem, não é só de
boas ideias e situações que se faz um bom filme. Sem um bom roteiro boas ideias
são apenas boas ideias.
E o roteiro de The Odd Life of Timothy Green é bem fraquinho.
Ele poderia focar em questões bastante profundas (questões essas que eu não
consigo pensar em nenhuma, mas, olha só, esse não é o meu trabalho), mas ele se contenta em ser fofinho e bonitinho a
maior parte do tempo, mesmo tendo seus momentos inspirados (a cena da morte do
tio da personagem de Garner é uma pincelada nessa profundidade que falta ao
resto da trama), tem algumas questões menos adocicadas, coisa que mostra que o
diretor tentou tomar alguns rumos menos Disney, mas foi devidamente podado (pegou
a piada?).
Mesmo assim, se você for vasculhar nas entrelinhas, há
elementos na trama que rendem uma bela reflexão. O próprio Timothy, aquele
filho de chocadeira, levanta questões interessantes. Primeiro por que ele sabe
algo que faz questão de não contar a ninguém, algo que tem relação om sua vida.
Depois por que ele dá a entender por várias vezes que tem uma consciência
ampla, para não dizer total, da própria existência, que ele serve a um
propósito, praticamente cumpre uma missão dada por, sei lá, Deus? A Mãe
Natureza? Gaia? E isso é bacana, por que ele sabe que tem uma missão e sabe o
que vai acontecer a ele quando ela se cumprir (ou falhar). Coisa que é
maximizada (na medida do possível) pela boa atuação do garoto CJ Adams. Apesar disso o
roteiro também não explora esse lado da história e só se esforçando de verdade
para perceber algo assim, por que o importante é a fofura e uma ou outra subtrama deslocada.
E isso é muito decepcionante. Não que eu esperasse alguma
coisa, mas durante todo o trajeto vem sendo dado ideia de que algo maior será
explorado na trama e, quando chega lá no final, quando acontece o que acontece
(até tem uma intensidade bem grande, admito), pfff, vai pelos ares,
profundidade, vai pelos ares o roteiro, a moral da história também vai, por que
não se chega a lugar nenhum e, não fosse o casal contando a história para a
assistente social, a ideia seria de que os dois não aprenderam nada com a
experiência.
Eu não acho que AEVDTG seja ruim, só acho que no decorrer da história foi dado a ideia de que ele poderia ser muito melhor e não foi. E o final ainda deprime, o que vai contra os propósitos de uma obra da Disney.
Resumindo, se você curte fofura, se gosta dos filmes da
Lassie e se curte emoções fáceis e baratas, você vai gostar do negócio. Se procura
profundidade, passe longe. Se procura mesmo, vai ter que cavocar fundo,
filhote, mas vai encontrar algumas ideias interessantes.
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