terça-feira, dezembro 06, 2016

Pete's Dragon 2016



Havia algo sobre Pete's Dragon (Meu Amigo Dragão - Brasil), uma qualidade que não consegui identificar no início, algo que fez-se  sentir diferente de quase todos os outros grandes filmes de verão americano, e sua presença era tão sutil que levou um tempo para descobri o que era: o silêncio.

O silêncio da floresta.

O filme é um remake da animação musical de David Lowery produzido pela Disney, de 1977, sobre um menino e seu melhor amigo: um dragão que pode ficar invisível. É o segundo filme deste verão americano ao lado de de BFG de Spielberg para crianças com idade entre sete e dez anos (e para adultos que ainda podem se lembrar qual era a sensação de ter essa idade), mas que falhou um pouco mesmo tocando alguns dos mesmos acordes emocionais da obra prima de Spielberg, ET. O filme de Lowery também deve um pouco para Spielberg em geral e ET em particular (O dragão é chamado de Elliot, o nome do herói de ET, não há um personagem adulto chave do tipo que está ai ao lado das crianças, e as partes mais ousadas em ação e excitadas da obra, são pontuadas pelo som de Daniel Hart a lá John Williams). Há acenos para outros filmes que são outras flexões da obra de Spielbeg, incluindo The Iron Giant/O Gigante de Ferro (outro filme sobre uma criança e uma criatura situado numa floresta primitiva). Mas pode ter mais em comum com os filmes de Terence Malick (A Arvore da Vida, Cavaleiros de Copas, Além da Linha Vermelha, etc) um poeta hippie, cristão transcendental que não tem medo de colocar a trama em espera enquanto passeia com uma câmera, permitindo-nos experimentar uma visão rarefeita do mundo natural. Os insetos zumbindo e as corujas piando na copa das arvores.

Lowery incorporou Malick no longa de 2013 Aint's Them Bodies Saints/Amor Fora da Lei e novamente em Pete's Dragon, embora ele tenda a se afastar de qualquer coisa que possa lhe acusar de ser muito artístico. A floresta e seus animais se sentem presente fisicamente, de uma forma que raramente experimentamos nessa era pós-analógica da tomada de filme. Você ouve pássaros gorjeando, a correnteza dos rios, o ranger do vento nos ramos das arvores. Você começa com um agradável olhar sobre as copas das arvores e finda em adoráveis pores de sol. E você aprecia os ruídos característicos que o dragão faz quando se move e arrasta a barriga escamosa-peluda no chão da floresta, ou o desdobrar de suas asas como o barulho de velas de uma escuna se estendendo. Ele não soa como o ruido de monstros de desenhos animados. Eles são como a memoria de uma criança para um cão amado que era realmente grande, ou parecia grande porque ele estava sempre perto. Elliot é uma criatura magica, mas mais que isso, ele é um animal muito grande, inteligente e cheia de sentimentos. Ele não se move como tantos animais criado em CGI para o cinema contemporâneo. Ele se move como um dragão de tamanho médio se moveria se ele realmente existiu, como os dinossauros de Juarassic Park. E quando ele olha Pete no olho, você sente que há uma personalidade lá. (Este é um filme top sobre dragões, a proposito, embora a minha criança interior insista que o dragão de Dragonslayer/O Dragão e o Feiticeiro de 1981  ainda é o melhor).

O enredo? Ah, certo. Não há muito, e talvez seja uma boa coisa que  não exista mais, porque o filme é executado em 1 hora e 42 minutos e se sente apenas um pouco mais que uma cantiga de ninar que superar as crianças que está destinada a encantar. O jovem Pete (Levi Alexander) está no banco traseiro de um carro durante uma viagem de férias com os pais para o noroeste do Pacifico, lendo seu livro favorito - "Elliot se Perde", quando seu pai em uma manobra para evitar bater um cervo acaba virando o carro e morrendo junto com sua mãe. Quando lobos na floresta ameaçam a criança aterrorizada, Elliot aparece como um anjo de guarda e o salva. O garoto se torna áspero e feroz em torno das bordas depois de cinco anos vivendo na floresta com o dragão, mas ele é doce e amável afinal, porque ele tinha um bom modelo.


Em seguida vem um trecho que trabalha como a sequencia do deserto na ilha em The Black Stallion/O Corcel Negro 1979, onde os dois únicos personagens são um menino e um cavalo. É cinco anos mais tarde, embora talvez não no presente; o filme é vago sobre a sua estrutura de tempo, mas a falta de tecnologias modernas sugere que é definido como antes dos anos 1990. Pete e Elliot estão se entendo como os personagens de O Livro da Selva. Eles brincam juntos de uma maneira que parece audaz e temerosa para quem não cresceu na floresta com um dragão como seu cuidador. Em uma imagem memoravel, o menino salta de um penhasco e o dragão mergulha de asas infladas como velas de uma embarcação para pega-lo, você pode dizer pela sua indiferença que não é a primeira vez quer ambos fazem isso.


No papel de velho sábio e contador de histórias que um dia adentrou o mundo magico do dragão, temos o Sr. Meacham (Robert Redford), ele é tido como o único que um dia viu o dragão. A besta tem uma mitologia local parecida com a do pé-grande ou o Yeti ou o Demônio de Jersey, mas é mantido vivo principalmente pelas histórias de Meacham. Sua filha Grace (a sempre estonteante ruiva Brice Dallas Howard), nunca viu o dragão, nem seu noivo Jack (Wes Bentley) ou sua filha Natalie (Oona Lawrence). Quando Grace encontra Pete vivendo em uma caverna ao pé de uma grande arvore e leva-o para um hospital, o filme entra no modo Frankeinstein-e-os-moradores. Irá Elliot salvar Pete da civilização? Irá Pete salvar Elliot de ser capturado e colocado em exposição como uma aberração da natureza, ou pior, a morte? Será que o dragão sopra fogo? Mamãe, quando é que o dragão vai cuspir fogo? (Não se preocupe garoto, eles não iam, colocar um dragão no filme se ele não tivesse que cuspir fogo).

Não há muito mais para se dizer do filme além disso, com exceção das contidas performances pontuais de seus atores (Redford e Howard especialmente), e isso parece uma escolha deliberada, uma intencional desconsideração com a formula comercial corrente, que você pode sentir exaltada pela leveza e inocência em exibição. Este é um daqueles filmes de tamanho médio com um grande coração e com muitos recursos familiar, o tipo de filme que pode fazer adultos se sentirem como crianças, sem fazê-los sentir-se crédulos demais ou estúpidos, e que pode entreter crianças mais atentas e pacientes simplesmente colocando um mundo memorável e personagens memoráveis na tela.

O senso comum diz que Hollywood não faz mais esse tipo de filme. Mas não é verdade. Os estúdios trazem um deles a cada poucos meses, e se eles são grandes ou meramente bons, eles não recebem trégua para uma claque que faz beicinho e olha atravessado para tudo que passa no mundo da fantasia. Nós vimos pelo menos três filmes live-action este ano, um foi Pete's Dragon, os outros foram BFG e Mogli O Livro da Selva. Todos eles mereciam uma melhor divulgação, mas apenas um  foi. Seria vergonhoso ver esse gênero de filmes desaparecendo dos cinemas em uma névoa como Elliot ficando invisivel

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