sábado, novembro 19, 2016

Captain Fantastic (2016)



Captain Fantastic, escrito e dirigido pelo astro de Silicon Valley, Matt Ross, apresenta uma família que se retira do mundo para viver na imensa e exuberante floresta do Oregon. Eles estão fora da grade, eles caçam e coletam para se alimentar e são auto suficientes. Um clã de seis crianças lideradas por seu pai carismático, Ben Money (Viggo Mortensen), um outdoorsman/filósofo. Eles estão totalmente desembaraçados de normas sociais e desconectados completamente do mundo digital. Decididamente eles estão fora do "mundo real". Eles são uma família Robinson Crusoé americana, ou como em um filme feito nos anos 1970, ela seria chamado de  "A Família Selvagem".


Ross explora o credo radical de Money e de sua família, fora do "mundo real", um modo de vida através de cenários, que as vezes falta nuances, mas que são no entanto, afiados e instigantes e que se completam muito bem dentro e fora uns dos outros para fazer um conto intelectualmente estimulante, e ainda totalmente acessível sobre a aventura de uma disfunção familiar. Ar fresco. Sem consumismo. Não ao materialismo. Ok, soa bem, mas insustentável. Tais utopias precisam de um líder forte, e seu pai Ben é. Ele trata seus seis filhos como se eles fossem recrutas militares (bem como doutorandos em disciplinas de alto conhecimento). Porque eles são crianças, e porque eles foram exilados de outras influências, eles são como papagaios que repetem para si mesmos suas palavras e eles compartilham sua visão de mundo, sem dúvida. 


E como em uma família cult, tudo isso é extremamente intrigante se chamarmos a mente filmes como A Costa do Mosquito de 1986 (The Mosquito Coast), ou O Peso de um Passado de 1988 (Running on Empty), que tiveram atmosferas semelhante de famílias enclausuradas, e carismático controle (ainda que bem intencionado) dos pais. Mas Captain Fantastic trata a situação (e Ben) de forma acrítica, e assim por simpatia, é que há uma total desconexão entre o que está na tela e o que Ross pensa estar na tela.

Quando o filme começa, a mãe deste pequeno clã, Leslie (Trin Miller) foi hospitalizada para tratar de um distúrbio bipolar, deixando o pai como o capitão do navio. Encontramos todos eles realizando um treinamento de sobrevivência e exercícios de campo em que o filho mais velho realiza um rito de passagem para a idade adulta. Ele caça e mata um servo com as próprias mãos. A noite eles se sentam em torno de uma fogueira para ler livros sobre armas e alta literatura de autores como Dostoievski. Eles discutem o Capitalismo e teorias politicas como parte de sua educação formal soando como pequenos robôs. Através de um rigoroso treinamento físico e intelectual, Ben levanta seus filhos para serem super sobreviventes e verdadeiros reis filósofos, ensinando-lhes os fundamentos do combate corpo-a-corpo em um dia e celebrando a vida e os ensinamentos de Noam Chomsky no outro.



As crianças são, em muitos aspectos, absolutamente extraordinárias. Bodevan, o mais velho, recentemente abandonou os princípios do trotskismo e redefiniu-se como um maoista; a filha mais nova, Zaja (Shree Crocks) tem toda a carta da Declaração dos Direitos de 1689 (Bill Rigths) memorizada e ainda tem opiniões profundas sobre as recentes mudanças no legislativo norte-americano. As filhas adolescentes Vespyr (Annalisse Basso) e Kielyr (Samantha Isler) são na vida real o que Katniss Everdeens é para a ficção Jogos Vorazes enquanto o irmão mais pequeno, Nai (Charlie Shotwell) é um avido colecionador de crânios de animais. Ben desenvolve claramente um vínculo muito forte com todos os seus filhos, embora o filho do meio da ninhada, Rellian (Nicholas Hamilton) parece estar suprimindo uma medida considerável de ressentimento profundamente arraigado. A amargura de Rellian decorre da ausência da mãe devido ao seu colapso mental e seu consequente afastamento para o mundo exterior em busca de tratamento.

Os pais da esposa culpam Ben por toda a doença da filha e o proíbem de vir ao funeral. Ben, que desenvolveu sua vida para nunca ter que responder a alguém, coloca todos os filhos em um grande ônibus escolar e dirigem-se pra o funeral a fim de fazer valer o desejo de sua mulher de receber uma cerimônia budista de cremação. É uma longa viagem parando apenas uma vez para roubar suprimentos de um supermercado (eles já tinham realizado um exercício sobre isso anteriormente), e uma vez para o ritual anual da família: a celebração do dia de Noam Chonsky, tudo de forma quase compulsória. A ironia
aqui, e isso é terrível, é que Ben está levando essa crianças a questionar o status quo e o sistema, para não engolir qualquer informação por atacado, e ainda assim ele cria um ambiente onde questionar sua autoridade é impossível.

A família para ainda uma noite para ficar com o casal Harpers e seus dois filhos, na verdade sobrinhos de sua falecida esposa. O choque cultural é extremo. Os filhos de Ben não sabem nada de cultura pop. Para ganhar o argumento de que seus filhos foram muito bem educados sem ir a escola, Ben convoca sua filha de seis anos de idade, para de improviso, argumentar com sua próprias palavras e entendimento sobre A Declaração dos Direitos (Bill of Rights), cujo proposito é envergonhar seus primos que foram educados na escola publica e não tem ideia sobre qualquer coisa. Uma criança despejando fatos  sobre A declaração dos Direitos é suposto ser adorável para uma comédia, bem como para um momento em família. Eu acho. Mas o que Ben estava sendo mesmo era um valentão hipócrita para com aqueles que o acolheram.

Capitão Fantástico faz bem bem em nos fazer conhecer mais algumas questões sobre um personagem como Ben. Bodevan, seu filho mais velho, sem que seu pai saiba, se submete aos testes para ser aprovado, e o é, em odas as grandes universidades do pais e Rellian, o rebelde, abertamente se opões ao controle do pai. Rellian faz uma escolha em um ponto que se sente como uma vitória, mas em seguida ele recua, desculpando-se com o seu pai pela sua desobediência. Para seu pedido de desculpas, Ben não diz: "Eu também sinto muito." Ele diz: "Eu te amo." É de se supor que ele está tocado não é?  Rellian tem apenas 10 anos de idade. Ele não tem nada que se desculpar, esse é o problema com Capitão Fantástico em poucas palavras.

Capitão Fantástico é tão suave com Ben, que quando Frank Langella mostra-se como pai de sua esposa, e expressa sua indignação com a maneira como ele educa os filhos, ele soia como a voz da razão, mas ainda assim o filme trata Langella como se ele fosse o vilão da história, um gato gordo de auto-satisfação, objeto do emblemático ódio de Ben e sua esposa (es suas crianças drones). "Olhe para o uso antiético de todo esse espaço!" è o que diz uma das filhas de Ben, ao ver o espaço onde mora o avô.

As crianças são todas excelentes, e criam uma unidade familiar crível. Mortesen dá matizes dobradas de autoridades e de um Ben suave, transparente, especialmente quando ele incentiva seus filhos a pensar com os seus próprios pensamento. (A cena em que ele força sua filha a ir mais longe em sua análise literária de Lolita é algo muito agradável de ver). Mortesen é um ator tremendamente poderoso, e ele pode fazer mais em um único close-up do que a maioria de outros atores conseguem com seus corpos inteiros. É a atitude do filme que é um problema.



Jean-jacques Rousseau não foi o inventor da a ideia de voltar a natureza como um bem. Isso tem haver com os seres humanos desde Adão e Eva brincando em um certo jardim. O raciocínio é: Se os seres humanos poderiam "voltar à natureza", então talvez todos os problemas do mundo poderiam ser erradicados. Mas há um erro nesse tipo de pensamento. Os cidadãos pobres dos países subdesenvolvidos economicamente já vivem em um estado "natural", sem água corrente, praticando agricultura de subsistência e sem acesso as modernidades da medicina, para falar de apenas algumas coisas. Eles provavelmente poderiam dizer aos hippies uma ou duas coisas sobre como a "natureza" em seu estado bruto não tem grandes atrativos diante de um banho e uma cama quente. Mas a mentalidade persiste e cruza linhas ideológicas. Há os Amish e os menonitas. Existem os "survivalists" escondido com os seus arsenais e teorias da conspiração. Há as radicais ramificações do Cristianismo favorecendo a homeschooling, e a priorização de "estar no mas não ser do mundo". Jonestown é o exemplo mais perigoso do que pode resultar de um retiro do mundo, mas há outros casos com consequências igualmente devastadoras. A sociedade não é o problema. O homem é o problema. A utopia só pode funcionar se ela for composta de uma única pessoa. Quando a segunda pessoa aparecer por lá você já vai ter problemas.

Se Ben era para ser uma espécie de "Jesus Camp" mergulhado em uma marca politica de cristianismo, preparando seus filhos para um certo arrebatamento apocalíptico, teria seu comportamento  que ser apresentado aqui como adoravelmente excêntrico? Teria o filme que apresentar um pai-sobrevivente escondido com seus filhos e armados acriticamente? Só porque Ben é um canhoto não significa que ele seja um idiota. É a mesma mentalidade com uma roupagem ideológica diferente. O filme poderia ter usado mais a ferramente do ceticismo

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