terça-feira, junho 07, 2016

Outcast - Episódio Piloto



Graças a American Horror Story, The Walking Dead, Penny Dreadful e o saudoso Hannibal, o horror de tela pequena está no epicentro do "pico de tv" da era. É um gênero que uma vez se pensou insustentável em uma base contínua, em vez disso, vemos o nascer das mais emocionantes narrativas em séries, artisticamente ambiciosas dos últimos 10 anos.Enquanto American Horror Story tem mercantilizado os mais berrantes, excessos e ostentações sangrentas do gênero, Hannibal e Penny Dreadful tem sondados as profundezas em um nível psicológicos. Em outros lugares, The Strain, The Waking Dead e seus spinoffs estão ocupados tecendo terrores  modernos (bioterrorismos, atividades governamentais sistêmicas, vazios de poder) em entretenimento de primeira.

É neste período de renascimento de todas as coisas sombrias e medonhas que Robert Kirkman o criador de Walking Dead, inaugura Outcast, um pesadelo gótico do sul com um show de horror em causa como muitos dessas séries são, com demônios figurados e literais. Marinando, quase quadro-a-quadro, em uma atmosfera mais sinistra e salgada que qualquer coisa que já vimos desde a primeira temporada de True Detective, é uma experiência de visualização completamente visceral - como deixou claro a malevolência réptil da sequencia de abertura sozinha, essas imagens iniciais, e todos os seus quadros vivos, são contaminados e assombrados na borda por uma escuridão escorrendo, de uma só vez, que evocam um tipo muito moderno de decadência urbana e a presença de algo antinatural escondido dentro, cheio de  purulência em meio a ruínas enferrujadas.



Em The Walking Dead, o mal tomou a forma de corrupção moral, a fome de poder e controle que virou gente boa em gente ruim tornando-os capazes de uma crueldades incompressível. Era um abraço situacional da maldade. Em Outcast há depravação comparável, mas é menos volitiva - o mal aqui é espiritual, uma antiga força que não apenas seduz as pessoas, mas também as sequestra. Quando um demônio leva uma pessoa para seu porão ela enterra profundamente. É um parasita, a oposição apropriada para as almas de suas vítimas e, muitas vezes fica adormecido até o momento em que ele escolhe para atacar, forçando-as a cometer atos brutais, auto-destrutivos e muitas vezes sem aviso.


Se The walking Dead é sobre a tentativa de parar um mundo cruel de hemorragias transversais que obscurecem as bussolas morais, Outcast está mais preocupado com a luta para impedir que as cicatrizes do passado ditem o presente (e, é claro, destruam o futuro). É sobre os horrores humanos reais de abuso e negligência, e os legados dolorosos que são deixados para trás. Seu protagonista assombrado, Kyle Barnes (Patrick Fugit) é um sobrevivente. Sua mãe, que estava realmente possuída por um demônio (Kyle apenas pensa que ela está doente), promulga uma terrível violência contra ele em sua juventude e o trauma coloriu amplamente a existência adulta de Kyle.

Ele mora em uma esquálida casa, miserável e agonizante, após a dissolução de um casamento em que outra brutalidade menos especifica ocorreu. Apenas a irmã de Kyle, Megan (Wrenn Schmidt) mantém um tipo de simpatia por ele; o resto da cidade se voltou contra o cara, tanto por vergonha em lembrar a criança indefesa e abusada pela mãe que eles não conseguiram ajudar, e a repulsa, olhando para o abusador ostensivo que ele se tornou.

Kyle é um pária, mas ele também é um recluso, escolhendo a solidão como uma forma de punição e o isolamento como auto-flagelação. Ele tem em sua irmã o único contato com o mundo exterior, mas o cara não está indo tão bem. Seus olhos estão afundados, seus ombros se inclinaram, seus passos são restrito e de uma letargia aleatória. Fugit comunica a miséria de Kyle com tal cansaço eficaz, e os olhos mortos fazem parece convincentemente que o personagem está mal, agarrado ao presente, perseguido como ele está a todo momento por lembranças de seu trauma. É, em última análise a sua incapacidade de mover-se para além do abuso que ele se persuade a sair do esconderijo - um jovem garoto chamado Joshua está apresentando sintomas semelhantes aos observados em sua mãe, e quando se constata que o menino está possuído por uma entidade demoníaca, Kyle começa a questionar se sua mãe era uma vítima, em vez de um agressor.

Se Fugit é núcleo dramático da série, o Reverendo Anderson (Phillip Glenister)é o seu, espirito empolgante meio comic-book. Quando ele e Kyle decidem visitar Joshua, percebem que a única maneira de ajudar o jovem é realizando um exorcismo perigoso. É Anderson que quer parar o mal sem medo travando uma guerra santa contra o demônio. Visivelmente quebrado e fumando um cigarro atrás do outro, ele é um um homem de Deus cansado, tornado grosseiro pela opressão constante do mundo ao seu redor. E, no entanto ele continua ferozmente devoto, empenhado em expulsar demônios, até seu último suspiro. Ao longo do que o exorcismo (uma maravilha de narrativa visual e câmera rápida), torna-se evidente que Kyle é abençoado com um talento especial para o exorcismo - demônios o conhece como "pária", um guerreiro cuja as gotas de sangue são como água benta, cujo o controle sobre eles é incomparável. Anderson, mesmo em todo seu compromisso com o oficio, não tem o mesmo dom.


Na forma como Outcast evolui em seus primeiros episódios, nota-se que há um ângulo "destino oculto" para o arco de Kyle, e sua aliança com Anderson leva a algumas voltas intrigantes, com os dois relutantemente formando uma dinâmica pai-filho, se unindo em uma busca que (a julgar pela quantidade de bens que descobrimos nessas horas iniciais) poderiam muito bem vir a ser a obra de uma vida.

Mas o que é mais interessante do que esse segmento, e que ainda para um pouco fora do escopo da série, é a maneira fluida como Outcast tece uma tapeçaria de caracteres profundamente problemáticos e danificados trabalhando juntos para lidar com circunstancias terríveis e histórias devastadoras. Kyle é um homem quebrado em busca de uma catarse, enquanto Anderson esta claramente em negação de estar assim fraturado, especialmente por ser um reverendo, mas Kyle também - ele é visto - é um pai em luto. Algumas das subtramas ainsa são nebulosas - a algo peculiar acontecendo com o xerife local (Reg E. Cathy), que está fixado em um reboque misterioso na floresta - mas outras tem um tremendo impacto dramático como relacionamento de Megan com o irmão que durante toda sua adolescência foi abusado, e é a única que se importa com ele. A Atriz fornece alguns dos momentos mais tocantemente de Outcast, e sua química com seu bem intencionado marido policial (David Denman) é maravilhosamente orgânica.

Tecnicamente a série é uma visão do diretor Adam Wingard que fez um trabalho espetacular transformando cada canto escuro em um refúgio para a maldade indizível, em que tira o seu chapéu para os clássicos do gênero de horror com seu tratamento ainda primevamente aterrorizante de exorcismo do piloto. A série continua, mesmo sem Wingard por trás das câmeras, com sua atmosfera decadente e pantanosa permeando todas as cenas. Outcast deve muito ao seu uso magistral de iluminação, mas também embala tudo em peças que furam você com sua criação de claustrofobia e insidiosa ameaça.

No entanto, Outcast é mais forte quando está fundindo terrores sobrenaturais com os horrores cotidianos da vida na sequencia da trama. Há uma pulsação emocional rica abaixo da violência visceral, que o desempenho ótimo de Fugit amplifica e estabiliza a resolutamente a escrita. A série se destaca na montagem em referências elegantes para grandes nomes do horror como o filme Exorcista, enquanto ainda estabelece uma estética própria que o torna um grande exemplo de como o horror na tela pequena pode reforçar o progresso do gênero sem distrair-se a partir de susto sem raízes.

Outcast fica sob a pele, e dentro de sua cabeça, sempre provocando algo primordial e inevitavelmente sinistro abaixo da superfície, tanto por causa de seu mundo como de seus personagens. Que uma história de horror desta complexidade e ambição torna a televisão uma especie de milagre, e se a série pode sustentar seus sustos e seu phatos que logo vai correr passando os concorrentes em termos de fornecimento de sangue, preparando calafrios e emoções, sem sacrificar um pingo de sua integridade dramática. The walking Dead, melhor fazer seu caminho de volta.


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