domingo, maio 29, 2016

Velha Roupa Colorida - Playlist Spotify by Michel Euclides


Bom com vocês já perceberam, isso aqui hoje é pra fazer um review de algo que não tentei antes, mas já devia ter feito. Revisar uma playlist musical. Sendo um cara que coloca música em um nível muito importante na vida, era algo que eu já devia ter tentado fazer como um resultado lógico. Eu adoro música, adoro o Spotify e é uma maneira totalmente nova e diferente do que era no passado ouvir música para min e acredito, para muitos da minha geração analógica. Faltava é claro, a "Playlist". Não falta mais.

Mas antes de começar, deixe-me falar de uma coisa: de pessoas importantes. Não, não do tipo que você pode estar pensando, não de celebridades de pessoas que estão na mídia o tempo todo ou coisa do tipo. Estou falando de pessoa "importantes" para você, de pessoas influentes para você, de pessoas que fazem parte da sua vida, que orbitam em seu entorno e que você não pode evitar que elas estejam por perto, principalmente por que você não quer isso. Eu sei isso vai parecer um tipo de homenagem respeitosa, ou melhor dizendo, um tipo de "de rasgar seda", eu sei. Porra, mas que seja, então.

Em um passado não muito distante, na beira de uma calçada, em uma festa de aniversário de um amigo em comum, eu conheci um cara. Um jovem cara. Um jovem que a fama já o precedia para min. Eu já ouvirá falar do nome, mas não conhecia a persona por trás do nome, e como um simbolo marcante daquele encontro, ela trazia embaixo do braço um violão. Quando fomos apresentados ficamos ambos ali mesmo na calçada trocando nossas primeiras, por que não dizer, velhas figurinhas, e era como se já nos conhecemos à décadas ou por toda uma vida. Pensei comigo mesmo. "Porra que cara velho". Sim, ele era mesmo uma velha alma (tenho certeza que alguém por aqui vai entender isso). Em pouco tempo viajamos em muitos gostos comuns, uma livro, ou alguns livros talvez, não estou certo, mas um em especial. Algumas canções,  a boa e velha/nova Filosofia, escritores, histórias boas e histórias ruins. Ainda hesitante na técnica, mais muito seguro do conteúdo, arranhou algumas boas músicas brasileiras no violão e eu lá, tentando acompanhar algumas delas menos seguro ainda. É como dizem, toda boa impressão deixa uma boa impressão e tenho certeza foi um caminho de duas mãos. Daquele dia em diante viramos amigos, ou se me entendem, restabelecemos uma amizade que não tem tempo e espaço que a separe. Eu gosto de pensar que eu pertenço a uma geração que está fazendo uma transição entre o analógico e o digital, uma ponte entre formas de pensar o mundo e a realidade de formas diferentes, complementares e necessárias, assim sendo, eu digo que o jovem cara transita bem por aqui também e se tornou meu parceiro de viagem. Mantemos o velho habito gastronômico/filosófico/etílico/nerd/musical - desculpem eu não tinha como dizer isso em uma frase, de nos reunir em alguns domingos quando nossos compromisso não importam tanto assim para continuar trocando aquelas velhas figurinhas que nunca se acabam. Sim, a pilha só aumenta.

Ai entra na pilha o Spotify com seu novo jeito de ouvir música. E você deve estar se perguntando como era a velha. Antes da rede era a vitrola com seus vinis pra quem tinha dinheiro, ou as ondas médias dos radio, um pouco mais tarde as FMs que também era para quem tinha dinheiro. Foi assim por um longo tempo.

Essa coisa de ouvir playlists, ou melhor ainda, de produzir playlists como se fosse um produtor musical do que vai tocar numa radio... eu digo, é muito legal. E ai o jovem cara produz uma com mais de 120 canções da MPB (Escute aqui) Velha Roupa Colorida By Michel Euclides, que é um painel de tudo que cresci ouvindo por toda minha vida. Um brinde a isso.

É uma viagem musical que embora seja um retrato do passado recente do cenário musical brasileiro é também uma representação da arte de muitos que ainda estão vivos e entre nós (exceto o recluso, mas não esquecido Belchior). Para quem viveu essa passado musical e que agora tem a antes inimaginável maneira de ouvir todos juntos é um verdadeiro deleite. E para quem a escutar hoje pode significar o contato com uma arte que é o resultado do engajamento de muitos dos compositores em uma realidade bem diversa do que vivemos. Infelizmente tenho que dizer que alguns parecem desconfortável com os novos tempos e ainda estão apegados a defender as mesmas causas do passado mesmo que na verdade elas não existam mais. Mas também pode ser que elas existam agora transvestidas de uma coisa nova e eles tenham razão em manter o discuso. Teremos que perguntar a alguns deles. A música nunca é pequena, as vezes não é importante para aquele tempo nem para aquela audiência, mas ai ela sobrevive e ressurge plena de sentidos. Somos nós "os transistores", os caras que fazem as pontes ente as épocas que as carregamos através dos tempos para que ela tenha pleno sentido.

Fico feliz que ele tenha escolhido para o topo da Playlist um compositor que entre todos entrou no cenário musical de maneira peculiar, manteve-se nele fiel a essa peculiaridade e fez uma saída ainda mais peculiar. O Sobralense Belchior sumiu há oito anos. deixou para trás uma agenda de shows. documentos, roupas, moveis e imoveis. Um cara que fez show em igreja, cabaré e cadeia. Um cara que criava seu mito com talento assombroso. além de perseverança e senso de humor:

"Não me peça para fazer uma canção como se deve/Correta, branca, suave, muito linda, muito suave/Sons, palavras são navalhas/E eu não posso cantar como convêm, sem querer ferir ninguém"

As cancões as vezes serviam de veículo de diálogos com seus contemporâneos e sua época:

"Veloso o sol não é tão bonito para quem vem do norte e vai viver nas ruas"

Mas apesar da rivalidade Belchior sempre afirmou que considerava Caetano um dos maiores compositores desse país. Dá pra entender isso de um cara que desembarcou no Rio de janeiro em 1973 com 80 contos de alguma moeda da época no bolso e algumas cartas de recomendação. O dinheiro acabou logo e as cartas não lhe serviram de nada por que ele não encontrou ninguém nos endereços.Só pela presença da arte desse cara na playlist ela já vale a audição.

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Musicalmente, o nosso jovem cara demonstra com a sensibilidade poética que lhe é peculiar e a habilidade dos espirito humanos de transcender o tempo e o lugar, ele traz o passado de volta pra min em todas, e não raras vezes que escuto essa playlist. Eu não posso deixar de recomendar isso pra vocês




Um comentário:

  1. Emocionado aqui com a homenagem, e as referências. Obrigado, amigo, pois muito do que sei veio de você. Grande abraço.

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