Há muito tempo atrás - Uns quinze anos, mais ou menos - conheci um dos caras que mudaria o rumo da minha vida e me marcaria a estrada. O nome dele é Mestre Assis Oliveira, e ele é, para mim, tão importante quanto meu pai. Ele me abriu as portas do conhecimento em tantas áreas que - tenho certeza - eu não seria quem sou hoje não fossem suas constantes contribuições.
Uma destas poderosas influências foi o gosto pelo Pink Floyd. E estamos aqui hoje para falar deles.
Com um misto de inveja e arrogância, jogo-me diante da tela hoje. Entre a necessidade e a vaidade eu me proponho a falar de "The Endless River", décimo quinto álbum desta que é uma das mais poderosas representações da Música.
A guitarra hipnótica de David Gilmour ainda é o guia, e a bateria marcante de Nick Mason vai sedimentando o caminho. O teclado de Wright é feito de ondas que formam um conjunto coeso, orgânico e intenso: um rio sonoro, feito de sonhos e de silêncios. Um rio sem fim.
O disco é quase que inteiramente instrumental - com exceção de duas faixas: "Talkin' Hawkin'" - que conta com a participação de ninguém menos que Stephen Hawking! - e "Louder Than Words", onde a letra da esposa de Gilmour, Polly Samson, fala sobre a união entre partes diferentes.
Talkin' Hawkin'
Falar possibilitou a comunicação de ideias
Permitindo que os seres humanos trabalhassem juntos
Para construírem o impossível
As maiores conquistas da humanidade
Surgiram do diálogo
Nossas maiores esperanças podem se tornar
A realidade no futuro
Com a tecnologia à nossa disposição
As possibilidades são ilimitadas
Tudo o que precisamos fazer é ter certeza de continuar falando.
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É como se Fernando Pessoa e Jorge Luis Borges fossem traduzidos em música...
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Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas
Que já têm a forma do nosso corpo
E esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares
É o tempo da travessia
E se não ousarmos fazê-la
Teremos ficado
para sempre
À margem de nós mesmos...
Fernando Pessoa
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(...)
O tempo é a substância de que sou feito.
O tempo é um rio que me arrebata, mas eu sou o rio;
é um tigre que me despedaça, mas eu sou o tigre;
é um fogo que me consome, mas eu sou o fogo.
(...)
Jorge Luís Borges
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É sentir o tempo passando como um velho cliché. É permitir ao antigo inimigo que chegue mais perto e sente-se junto a nós diante da lareira. É vislumbrar possibilidades, apreciar cada manhã como uma nova chance de fazer tudo certo, impressionar-se com a beleza das coisas, amar de maneira desinteressada, apreciar cada chuva como milhares de gotas de vida, talvez olhar para o horizonte não com desesperança, mas com um desejo sincero de que haja uma outra margem do lado de lá do rio...
Há tantas coisas... a música do Pink Floyd reverbera de maneira tão íntima, tão poderosa, tão genética... é impossível não sair mexido depois de perceber que, na verdade, eles fazem música dentro de você.
Aconselho a audição deste disco num ambiente solitário com vista para o céu. Enquanto as nuvens passam nós também passamos. E não serão nossos corpos apenas botes na busca da outra margem deste rio sem fim?
Maldita seja toda a esperança. Bendita seja toda a esperança.
Que disco, Pink Floyd. Que disco.
E mais uma vez, obrigado, Mestre Assis.
O trabalho do mestre sempre será reencontrar, pelas estradas de energia do cosmo, aquele que sempre foi o seu melhor aprendiz. O momento do reencontro é sempre de aprendizagem também para o velho mestre. Ou talvez. seja tudo isso, apenas o reencontro de duas almas velhas acostumadas as vicissitudes da vida. Há o momento de ensinar, e há o momento de aprender. E haverá, acima de tudo, o momento de compartilhar. Agora é o momento!
ResponderExcluirLamentando muito não ter Waters no grupo,
ResponderExcluirmas gostando muito de ver o Floyd de volta
Division Bell é um álbum mágico, ali me agradou
Estranho, eu sempre lembro do céu quando escuto Floyd... sei lá... sensações de céu azul e nuvens brancas esparsas passando.... O Momentary Lapse of Reason me traduz muito bem isso...
achei engraçado a recomendação
em tempo:
Muito bom blog e artigo
parabéns