Dia 277
The Life Aquatic with Steve Zissou - 2004
Dir: Wes Anderson
Elenco: Bill Murray, Owen Wilson, Anjelica Huston
-O tubarão-jaguar é uma espécie
ameaçada, no mínimo. Qual seria o propósito científico de matá-lo?
-Vingança.
(Steve Zissou respondendo a uma jornalista em uma coletiva de imprensa)
A Vida Marinha com Steve Zissou provavelmente seja o
trabalho mais épico do diretor Wes Anderson. Nele Anderson nos conta a história
de um documentarista submarino que perde o melhor amigo para um tubarão jaguar
(espécie que ele conhece e nomeia no momento do ataque com a explicação de que
deu ao animal o nome das duas primeiras coisas que vieram à sua mente) durante
a gravação de um de seus famosos documentários e jura vingança ao animal. O
documentarista é o Steve Zissou do título, interpretado por ninguém menos que
Bill Murray em um de seus melhores papeis. Ao ver o amigo ser devorado (não
engolido, mas mastigado), Zissou dispara um rastreador no animal, o que o
motiva a fazer uma segunda parte de seu documentário, dessa vez mostrando a
caçada ao tubarão jaguar, ao qual ele pretende matar com explosivos.
Para tal, Zissou tem à sua disposição toda a sua
tripulação, que partilha com o explorador o mesmo desejo de vingança. Porém ele
e sua tripulação (formada por, entre outros, Willem Dafoe e Seu Jorge, que faz
a trilha sonora inteira por meio versões voz e violão cantadas em português de
músicas do David Bowie) não contavam com duas coisas: a primeira é o surgimento
de um suposto filho do aventureiro, Ned (Owen Wilkson) com uma mulher a quem
ele não vê há 30 anos e o segundo é a chegada de uma jornalista grávida (Cate
Blanchett) que acompanhará a jornada de Zissou em busca de vingança. Em troca
Zissou ganharia a capa de uma revista naturalista e um possível investimento em
seus documentários.
No elenco ainda há as participações de Angelica Huston e Jeff Goldblum.
Então, permeada por imprevistos, tem início a jornada de
vingança de Steve Zissou, indo de encontro a todo tipo de desventura, desde
desentendimentos internos, até ataques de piratas e perdas na tripulação.
A Vida Marinha com Steve Zissou tem toda uma carga
dramática de filme de vingança, mas naquela roupagem esquisita/maluca/realística
característica do diretor. Wes Anderson é um cara fenomenal. Ele é capaz de
algo que eu considero uma proeza e tanto: transpor para as telas sua visão
exata da realidade, a forma como ele enxerga o mundo surtado no qual vive, sem
exageros, sem floreios. Tudo acontece com uma naturalidade meio surreal, as
coisas parecem fluir desconfortáveis, a câmera que fica mudando de rosto em
rosto, os silêncios antes dos diálogos, a forma como cada personagem se
encara... Se você parar pra ver, na vida real, as coisas acontecem exatamente
como nos filmes do Wes Anderson.
E falando em diálogos, Vida Marinha é um prato cheio para
os apreciadores. É o mais afiado dos longas de Wes Anderson, chega a beirar o
ácido, principalmente no que se diz respeito ao seu protagonista.
“Se me dão licença, vou passar a
noite bêbado e em 10 dias sairei para encontrar o tubarão que comeu meu amigo e
destruí-lo.
Quem quiser se juntar a mim será
mais que bem-vindo.”
Zissou é espetacular, um sujeito amargurado e egoísta,
mas com um coração enor... razoavelmente grande, podia ser maiorzinho, que vê em
sua vingança a chance de provar sua fidelidade a um amigo (e voltar a ser
aclamado como documentarista) após a morte deste, e de reverter erros do
passado ao se aproximar do filho a quem acabou de conhecer.
A vida Marinha é um pequeno espetáculo, uma epopeia (foi
longe essa!) sobre vingança, amor, amizade e redenção, tudo pelo ponto de vista
do mais peculiar dos diretores, um sujeito tão estranho quanto fascinante.
O final da jornada de Zissou é tão surpreendente quanto
emocionante (nos padrões Wes Anderson) e bem humorado. Nem vale a pena
comentar, ele com certeza vale a surpresa.
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