Dia 142 - Felipe Pereira 136
Bloco do Eu Sozinho é um disco icônico!
Um marco para o rock nacional, uma prova do amadurecimento
saudável da melhor banda de rock da atualidade (até aquele momento, por que
depois a banda evoluiu mais e mais). Eu diria que Los Hermanos é o The Verve
brasileiro. Acabou? Não acabou? Mas aquele não era o último show? Quem se importa,
se a banda houver acabado de vez, ao menos deixou um legado memorável. Bloco do
Eu Sozinho é experimental e intimista ao mesmo tempo em que é pop o suficiente
para agradar o grande público. Mistura samba, com rock com balada romântica,
por vezes numa única música e faz isso bem.
Às vezes acho que a intenção do Sambô era evoluir o que
Los Hermanos começou. Pena que, com seu Domingo, Sangrento Domingo eles tenham
fracassado vergonhosamente ao ponto de me fazer ficar constrangido. Cara, um
amigo me falou: vê esse grupo, cara! Eles são incríveis, tocam rock em ritmo de
samba!
Meu amigo que me desculpe, mas Sambô é uma desgraça.
Voltando a Bloco...
Eu tenho uma teoria que diz que Los Hermanos funciona de
modos diferentes em dois distintos pontos da sua vida. Primeiro quando você é
moleque e Anas Júlias e Caras Estranhos são o ponto máximo do bom seu gosto
musical. Esse é o ponto em que você execra o estilo e a “voz de bêbado” do
Rodrigo Amarante, suas canções lentas e emotivas, íntimas e feridas. Talvez ele
seja sentimental demais. Nesse ponto da sua vida Marcelo Camelo é o que há! Ele
é mais roqueiro, sua voz é mais “comum”, por assim dizer, é mais fácil de
aceitar quando você tem treze, quatorze anos de idade. Mas você envelhece, fica
cansado e preguiçoso e, com isso, você aprende a contemplar as coisas pequenas,
as coisas que se arrastam pelo chão enquanto a vida corre. Você corre o tempo
todo, quer que o dia tenha 72 horas, quer que o tempo passe mais devagar. É
nesse ponto da sua vida que você passa a apreciar o ritmo lento e a voz cansada
do Amarante. A voz do Camelo continua incrível e você continua curtindo, mas
você passa a dar valor a coisas menores e mais simples, não que o Amarante seja
menor ou mais simples, mas você passa a notar a complexidade das coisas
simples. E é nesse ponto da sua vida que Sentimental faz toda a diferença,
quando você se pega no ônibus, flashbacks em sua cabeça, flashforwards com
aquela garota linda a alguns metros de você, quando você cria sua vida inteira
em sua mente com aquela pessoa que você nem conhece, aquela pessoa que nem te
percebeu.
Bloco do Eu Sozinho canta sobre corações partidos, carnavais
que se findam (e você os entenda como quiser), amores errados e não
correspondidos, flores extraviadas (quem nunca?). É um disco pra se ouvir aos
dez e depois aos vinte anos de idade, é como ouvir dois discos completamente
diferentes. Não é a colher que entorta, é você.
Talvez você tenha amadurecido e aprendeu a apreciar
aquele samba que você saltava quando era jovem demais para compreender. Ou
talvez você só esteja cansado demais pra saltar a faixa, sendo obrigado a
apreciar a poesia. E hoje, aos vinte e um, ouvir ao Bloco faz toda uma
diferença, uma diferença monstruosa. Você precisa de carga pra compreender (ou
achar que compreende), você precisar ter sido ferido, traído, substituído, você
precisa ter mudado, crescido, envelhecido.
Ter Cansado, desistido, recomeçado...
Ter Insistido, apostado e falhado.
E eu espero estar vivo aos 40 para retornar a esse disco
com mais cem anos de experiência, para ter outra perspectiva dele, com mais
carga, com mais emoção, com mais flashbacks e, quem dera, mais flashforwards...
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