quarta-feira, maio 22, 2013

Los Hermanos - Bloco do Eu Sozinho

Dia 142 - Felipe Pereira 136

Bloco do Eu Sozinho é um disco icônico!
Um marco para o rock nacional, uma prova do amadurecimento saudável da melhor banda de rock da atualidade (até aquele momento, por que depois a banda evoluiu mais e mais). Eu diria que Los Hermanos é o The Verve brasileiro. Acabou? Não acabou? Mas aquele não era o último show? Quem se importa, se a banda houver acabado de vez, ao menos deixou um legado memorável. Bloco do Eu Sozinho é experimental e intimista ao mesmo tempo em que é pop o suficiente para agradar o grande público. Mistura samba, com rock com balada romântica, por vezes numa única música e faz isso bem.
Às vezes acho que a intenção do Sambô era evoluir o que Los Hermanos começou. Pena que, com seu Domingo, Sangrento Domingo eles tenham fracassado vergonhosamente ao ponto de me fazer ficar constrangido. Cara, um amigo me falou: vê esse grupo, cara! Eles são incríveis, tocam rock em ritmo de samba!
Meu amigo que me desculpe, mas Sambô é uma desgraça.
Voltando a Bloco...
Eu tenho uma teoria que diz que Los Hermanos funciona de modos diferentes em dois distintos pontos da sua vida. Primeiro quando você é moleque e Anas Júlias e Caras Estranhos são o ponto máximo do bom seu gosto musical. Esse é o ponto em que você execra o estilo e a “voz de bêbado” do Rodrigo Amarante, suas canções lentas e emotivas, íntimas e feridas. Talvez ele seja sentimental demais. Nesse ponto da sua vida Marcelo Camelo é o que há! Ele é mais roqueiro, sua voz é mais “comum”, por assim dizer, é mais fácil de aceitar quando você tem treze, quatorze anos de idade. Mas você envelhece, fica cansado e preguiçoso e, com isso, você aprende a contemplar as coisas pequenas, as coisas que se arrastam pelo chão enquanto a vida corre. Você corre o tempo todo, quer que o dia tenha 72 horas, quer que o tempo passe mais devagar. É nesse ponto da sua vida que você passa a apreciar o ritmo lento e a voz cansada do Amarante. A voz do Camelo continua incrível e você continua curtindo, mas você passa a dar valor a coisas menores e mais simples, não que o Amarante seja menor ou mais simples, mas você passa a notar a complexidade das coisas simples. E é nesse ponto da sua vida que Sentimental faz toda a diferença, quando você se pega no ônibus, flashbacks em sua cabeça, flashforwards com aquela garota linda a alguns metros de você, quando você cria sua vida inteira em sua mente com aquela pessoa que você nem conhece, aquela pessoa que nem te percebeu.
Bloco do Eu Sozinho canta sobre corações partidos, carnavais que se findam (e você os entenda como quiser), amores errados e não correspondidos, flores extraviadas (quem nunca?). É um disco pra se ouvir aos dez e depois aos vinte anos de idade, é como ouvir dois discos completamente diferentes. Não é a colher que entorta, é você.
Talvez você tenha amadurecido e aprendeu a apreciar aquele samba que você saltava quando era jovem demais para compreender. Ou talvez você só esteja cansado demais pra saltar a faixa, sendo obrigado a apreciar a poesia. E hoje, aos vinte e um, ouvir ao Bloco faz toda uma diferença, uma diferença monstruosa. Você precisa de carga pra compreender (ou achar que compreende), você precisar ter sido ferido, traído, substituído, você precisa ter mudado, crescido, envelhecido.
Ter Cansado, desistido, recomeçado...
Ter Insistido, apostado e falhado.
E eu espero estar vivo aos 40 para retornar a esse disco com mais cem anos de experiência, para ter outra perspectiva dele, com mais carga, com mais emoção, com mais flashbacks e, quem dera, mais flashforwards...
Bloco é um disco com seus rodeios e suas indiretas, suas metáforas e suas morais... Se ele fosse mais direto, você o rejeitaria...
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