domingo, março 15, 2015

Relatos Selvagens

Relatos Salvajes - 2014
Dir:  Damián Szifrón.
Elenco: Darío Grandinetti, María Marull, Mónica Villa.


Começa em um avião: um cara puxa assunto com uma desconhecida da poltrona ao lado e os dois começam a falar sobre si. Em certo momento, eles descobrem que tem um conhecido em comum: um ex-namorado da moça, que era aspirante a músico e, em sua tentativa de obter sucesso, foi massacrado pelo sujeito da cadeira ao lado, um crítico musical. De repente, uma velhinha da poltrona da frente levanta e diz que foi professora do sujeito no colegial, e mais uma pessoa se pronuncia dizendo ter ligação com o sujeito. E mais outra e mais outra, e assim por diante. Então a grande revelação é feita: todos os passageiros daquele voo presenciaram, influenciaram ou causaram, em algum aspecto, o fracasso da vida de um sujeito chamado Gabriel Pasternak. Até que o inesperado, como se aquilo tudo fosse algo previsível, acontece... E, daquela cena de abertura em diante, você será incapaz de desgrudar os olhos de Relatos Selvagens.


Relatos Selvagens, que concorreu ao Oscar de 2015 como melhor filme estrangeiro representando a Argentina, conta seis pequenas histórias separadamente, sem ligações visíveis entre si, exceto uma: a raiva. Todas elas falam sobre raiva, todas elas acompanham pessoas que chegaram naquele limite, naquele momento em que a represa rompe, naquele ponto em que a raiva domina e o ser humano faz o impensável. Sejam essas pessoas um protagonista ou um mero figurante que foi tomado pela ira e faz algo irreversivelmente devastador.

Relatos é surpreendente em cada um de seus. Completamente imprevisível. É tenso, frenético, nervoso e violento. Tem um humor negro absurdo, daquele tipo que te faz rir rangendo os dentes, surpreso e desconcertado. Não há tempo para ser previsível, o ritmo do longa não permite que o espectador veja o que está por vir. Tudo é intenso e explosivo, seja uma briga de trânsito ou um casamento, todas as coisas na vida são como bombas e todas elas tem um gatilho.
E ver essas bombas explodindo é tão bom! Tão divertido, tão engraçado de uma forma totalmente errada. É impossível não se imaginar em uma situação daquelas e se pegar questionando que atitude você tomaria.

O filme é dirigido por Damián Szifrón, de Nove Rainhas, e produzido pelo diretor Pedro Almodóvar, o que explica muito sobre o tipo de humor do qual ele faz uso. Também há toques de Tarantino, tanto pela trama recortada quanto pelo humor veloz e pela imprevisibilidade.
Tecnicamente Relatos é... Lindo! É impecável. Fotografia, trilha sonora, atuações soberbas (é incrível como cada protagonista está à vontade em seu surto furioso) e uma direção perfeita.
Quando o filme acaba, fica aquela sensação de que precisava de mais. Não que a obra pareça incompleta ou superficial, é que ela causa dependência. E o último conto, ou melhor, relato encerra tudo tão apaixonadamente (ainda que de forma doentia), tão intensa que as duas horas que se passaram ali não parecem suficientes.

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